Durante o último do Brasil, à tarde, não foi diferente: lá estava a propaganda de cerveja, novamente com os jogadores brazucas, durante a matinê. Manhã ou tarde, horários em que milhares de adolescentes e crianças podem estar na frente da TV. Aguardem a partida de sexta-feira, às 11h.
No Brasil, como muitos já sabem, existe uma regra que permite que só a cerveja pode ser anunciada em qualquer horário. Comercial de cachaça não pode: só depois das 21h. A indústria (da propaganda e da cerveja) nos últimos anos, porém, em uma autorregulamentação, comprometeu-se a evitar horários com público infantil.
Diz o famoso anexo "P" da autorregulamentação, escrita pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Públicitária, em 2008:
"Princípio da proteção a crianças e adolescentes: (o comercial) não terá crianças e adolescentes como público-alvo. Diante deste princípio, os anunciantes e suas agências adotarão cuidados especiais na elaboração de suas estratégias mercadológicas e na estruturação de suas mensagens publicitárias. Assim:
- o planejamento de mídia levará em consideração este princípio, devendo, portanto, refletir as restrições e os cuidados técnica e eticamente adequados. Assim, o anúncio somente será inserido em programação, publicação ou web-site dirigidos predominantemente a maiores de idade. Diante de eventual dificuldade para aferição do público predominante, adotar-se-á programação que melhor atenda ao propósito de proteger crianças e adolescentes;
- não se associará o consumo do produto ao desempenho de qualquer atividade profissional.
Pergunto: vale para a Copa?
P.S.: Vale a pena ler o artigo publicado hoje pelo desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo Aloísio de Toledo César no Estadão, "Beber e matar com moderação". Acrescento aos comentários do desembargador: as cervejarias escolhem, curiosamente, para as mensagens obrigatórias de prevenção justamente aquelas com imperativos que incentivam o consumo. Justamente o BEBA com moderação. É por isso também que fazem ações contra o beber e dirigir. Afinal, a mensagem é, beba, o quanto quiser, faça outras besteiras, mas não dirija. Nada de gol contra.
Fabiane Leite é repórter da área de saúde desde 1999, dedicada principalmente à cobertura de saúde pública e privada. Trabalhou no Jornal da Tarde, Folha Online, Folha de São Paulo e atualmente é repórter da seção Vida do jornal O Estado de São Paulo. Acredita que a saúde é o princípio básico para a felicidade.