Uma análise química dos ossos de antigos núbios mostra que eles consumiam regularmente o antibiótico tetraciclina, muito provavelmente na cerveja. Os antibióticos, substâncias capazes de matar bactérias e conter infecções, foram descobertos cientificamente em 1928, com a penicilina.
A pesquisa, encabeçada pelo antropólogo George Armelagos da Universidade Emory e pelo químico Mark Nelson, da Paratek Pharmaceuticals, está publicada no American Journal of Physical Anthropology.
"Tendemos a associar drogas que curam doenças à medicina moderna", disse, em nota, Armelagos. "Mas está ficando cada vez mais claro que essa população pré-histórica estava usando evidência empírica para desenvolver agentes terapêuticos. Não tenho dúvida de que sabiam o que estavam fazendo".
Armelagos havia descoberto, em 1980, aparentes traços de tetraciclina em ossos humanos da Núbia, atual Sudão, datados de 350 a 550. Mais tarde, ele e colegas associaram a fonte do antibiótico à cerveja núbia.
O grão usado para fazer a bebida fermentada continha a bactéria estreptomices, que produz tetraciclina. A questão passou a ser determinar se a "contaminação" com antibiótico era acidental ou proposital.
Envolvendo-se na pesquisa, Nelson realizou um procedimento para extrair a tetraciclina dos ossos de antigos núbios mumificados. Segundo ele, os restos mortais estavam "saturados" do produto. "Estou convencido de que eles tinham a ciência da fermentação sob controle e estavam produzindo a droga de propósito".
Outros povos da época, como jordanianos e egípcios, também usavam cerveja para fins terapêuticos.