Brasil analisará uso de radiação contra ‘Aedes’

Projeto de esterilização da agência atômica será discutido em Brasília, mas funcionaria melhor em pequenas cidades

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Por Jamil Chade
Atualização:
O mosquito 'Aedes aegypti' é transmissor do zika, da dengue e da chikungunya Foto: Sérgio Castro/Estadão

GENEBRA - Na esperança de reduzir de forma substancial o vetor do zika vírus até os Jogos Olímpicos, o Brasil vai avaliar o uso de radiação nuclear para combater o mosquito Aedes aegypti. Um encontro será feito entre o Ministério da Saúde e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) nos dias 17 e 18, em Brasília, com a meta de avaliar a implementação de um amplo projeto que esteriliza o mosquito. 

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Já no dia 22, também em Brasília, especialistas de todo o mundo vão se reunir para examinar a viabilidade do projeto. Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o surto de casos de microcefalia e outros distúrbios neurológicos em regiões com registro de zika vírus como uma emergência internacional. Uma das conclusões de especialistas é de que, com a vacina não podendo ser produzida antes de 2018, a meta hoje é um “combate agressivo ao vetor”.

E o mundo vem perdendo a batalha contra o Aedes. Tanto na OMS como no Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a percepção é de que é de que os instrumentos de desinfecção são pouco eficientes e apenas contar com uma mobilização social não está dando resultados. 

A nova estratégia, proposta pela AIEA, é a de reverter a expansão da população de mosquitos. O plano consiste em expor mosquitos machos à radiação nuclear, tornando-os inférteis. Uma vez de volta no meio ambiente, esses mosquitos não conseguiriam se reproduzir e a população geral teria queda.

A SIT (sigla em inglês para Sterile Insect Technology) já existe e consiste em colocar os vetores em contato com raios X ou Gama. A vantagem do sistema é de que milhares de mosquitos seriam controlados, sem o uso de produtos tóxicos. Mas o grande obstáculo é o volume de insetos que teriam de ser inicialmente esterilizados. Para que isso funcione, os espécimes modificados teriam de ser superiores ao número de mosquitos machos em uma população autóctone em uma proporção de 10 a 20 vezes. 

Na prática, milhões de mosquitos teriam de ser expostos à radiação. A própria AIEA estima que o plano teria maiores chances de funcionar em pequenas cidades e não em metrópoles como o Rio. 

Ainda assim, os técnicos são otimistas. “Se o Brasil soltar um enorme número de mosquitos machos nessas condições, levaria poucos meses para reduzir a população. Mas isso teria de ser combinado com outros métodos”, disse o vice-diretor da AIEA, Aldo Malavasi.

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Outros países. Além do Brasil, países latino-americanos como Guatemala, El Salvador e México já estão em negociações, além da Indonésia.