‘Cheguei a ir para o hospital por não conseguir dormir’, conta dona de casa

Senhora de 70 anos passou a usar ansiolítico depois da morte do irmão; idosos são mais propensos a quadros depressivos

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Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli e Juliana Diógenes
Atualização:

Após a morte do irmão, há 15 anos, a insônia passou a fazer parte da rotina da dona de casa Marluce Tavares de Oliveira Cabral, de 70 anos, moradora da Vila Olímpia, zona sul da capital. A dificuldade para dormir veio acompanhada de ansiedade e ataques de pânico constantes. A idosa não se conformava por ter perdido o familiar de forma tão repentina. “Às 18h, minha sobrinha me ligou falando que ele tinha sido internado com uma crise de pancreatite aguda e, cinco horas depois, ele já estava morto. Não tive tempo nem de me despedir”, conta.

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Sem conseguir retomar suas atividades cotidianas após a perda, Marluce foi encaminhada pelo posto de saúde do seu bairro a um psiquiatra da Prefeitura, que receitou um remédio contra a ansiedade, além de psicoterapia. “Cheguei a ir para o hospital por não conseguir dormir, eu tinha medo de tudo. Se não fosse o remédio, acho que teria enlouquecido.”

A frequente morte de familiares e amigos e o desenvolvimento de problemas de saúde são algumas condições que, por tornarem-se mais comuns na terceira idade, deixam os idosos mais propensos a desenvolver quadros de depressão e ansiedade, segundo o professor do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Jair de Jesus Mari. “A pessoa passa por uma decadência pessoal, com perdas constantes, eventuais dificuldades financeiras e ocorrência de doenças graves ou incapacitantes. Isso tudo torna o idoso certamente uma população de risco para transtornos psiquiátricos”, diz o médico.

O especialista adverte, no entanto, que, em qualquer faixa etária, é preciso ter cautela antes de iniciar a medicação. “Nos quadros mais leves de depressão e ansiedade temos de primeiro tentar tratar com psicoterapia e atividade física, porque não podemos desconsiderar os efeitos adversos desse tipo de medicação, como disfunção sexual e aumento de peso. Em quadros moderados e graves, o medicamento é necessário.”

Terapia. Apesar de se considerar “viciada” no medicamento, Marluce diz que segue as demais indicações médicas para o seu tratamento. “Faço terapia em grupo, continuo em acompanhamento no psiquiatra e ainda danço forró pelo menos uma vez por semana. Levo uma vida independente, faço minhas coisas, mas não consigo ficar sem o remédio. Só de pensar, já fico nervosa”, conta.

Depois de mudar várias vezes de medicamento por não conseguir se adaptar, a dona de casa começou, há seis meses, a tomar clonazepam. Mais conhecido como Rivotril, seu nome comercial, o remédio é o ansiolítico mais distribuído na rede municipal de São Paulo. Somente no ano passado, foram mais de 22 milhões de comprimidos distribuídos a 120 mil paulistanos.

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