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Cidade no Rio vive angústia após morte por febre amarela

Em Casimiro de Abreus, seis parentes do pedreiro morto pela doença estão internados; em dois dias, 17 mil pessoas buscaram vacina

Por Clarissa Thomé
Atualização:
Preocupação. Confirmação de morte e de mais um caso de febre amarela provocou corrida aos postos e longas filas Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

CASIMIRO DE ABREU (RJ) - Um tio, a viúva e os quatro enteados do pedreiro Watila dos Santos, morto aos 38 anos de febre amarela em Casimiro de Abreu, na Baixada Litorânea do Estado, apresentaram sintomas semelhantes à doença e foram internados. Todos moram no mesmo terreno em que Watila vivia: um conjunto de casas simples, perto de uma encosta de Mata Atlântica, no Córrego da Luz, bairro da zona rural da cidade de 35 mil habitantes. Outros dois parentes tiveram enjoo e febre, mas não precisaram ser hospitalizados. 

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Um vizinho da família, Alessandro Valença Couto, de 37 anos, é o único caso confirmado de febre amarela no Estado, além de Watila. Ele foi removido para o Hospital dos Servidores do Estado, na capital.

O trabalhador rural Joaquim Oliveira dos Santos, de 45 anos, começou a se sentir mal no velório do sobrinho. Voltou para casa com febre alta e manchas vermelhas no corpo. “Ele deitou direto e ficou arriado. Na segunda-feira, chamei o Corpo de Bombeiros, que levou meu marido e a viúva, que também estava passando mal”, contou a mulher de Joaquim, Valdete Vieira dos Santos. 

“A gente nunca tinha visto essa doença por aqui. Agora estamos vivendo na angústia. Aqui no terreno somos 19 (adultos) e 8 crianças. A secretaria só veio vacinar a gente porque meu tio foi lá no posto buscar os enfermeiros. Prometeram repelente para nós e até agora nada”, afirmou Camila Oliveira da Silva, de 27 anos, cunhada de Watila.

A viúva do pedreiro, Mariane, e os filhos dela, três meninas e um menino com idade entre 6 e 11 anos, tiveram sintomas como enjoo, febre, vômito e mal-estar. De acordo com a prefeitura de Casimiro de Abreu, os cinco foram internados por precaução. A avaliação dos médicos é de que o estado de Mariane pode ter fundo emocional. Amostras de sangue de duas crianças foram encaminhadas para o Laboratório Central Noel Nutels. 

Bugio. Na tarde desta quinta, no município vizinho de Silva Jardim, um macaco bugio foi encontrado morto perto da reserva do Poço das Antas, um dos últimos redutos do mico-leão dourado. O animal morto foi achado por um morador de um assentamento na Estrada dos Cambucás e levado para exames no Hospital Veterinário Municipal, no Rio. O objetivo é descobrir se o animal morreu da doença.

Preocupadas, equipes da Associação Mico-Leão Dourado (AMLD) monitoram o estado de saúde dos micos. Há 3,2 mil animais espalhados por reservas ambientais nessa região, que inclui Silva Jardim e Casimiro. “Hoje tivemos uma suspeita de um mico-leão adoecido, mas não se confirmou”, disse o secretário executivo da AMLD, Luiz Paulo Ferraz.

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Vacinas. A confirmação dos primeiros dois casos da doença na cidade fez a Secretaria de Estado de Saúde rever a estratégia de vacinação. Um hospital de campanha foi montado na Praça Feliciano Sodré, no centro da cidade de 35 mil habitantes, com funcionamento 24 horas. Equipes de saúde de outras cidades foram para Casimiro para reforçar o atendimento. 

Os casos de febre amarela na cidade assustaram a população, e houve uma corrida aos postos. Entre quarta-feira, quando os casos de febre amarela foram confirmados, e as 15 horas desta quinta, 17 mil pessoas foram imunizadas. Novas remessas da vacina chegaram de helicóptero, no fim da tarde.

“Vim tomar a vacina porque ninguém quer morrer, né”, disse a doméstica Damaris Correia Morais, de 27 anos. A dona de casa Suzana Pereira, de 34 anos, levou a filha Samira, de 15, para ser vacinada. “No carnaval, essa região do Sana, Lumiar, ficou cheia de gente de fora. É uma região muito turística, de cachoeiras. Pode ser que um turista contaminado tenha trazido a doença”, acredita. A prefeitura emitiu alerta para que a população evite a Cachoeira do Pai João, próximo da casa do pedreiro Watila Santos. A estudante de serviço social Thaiany Silva, de 22 anos, que também estava na fila para se vacinar, disse que seus amigos estiveram no local na manhã desta quinta. “É um dos principais programas do pessoal que mora aqui. E lá tem tanto mosquito que arranca sangue da gente.”

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