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Cidade com 1ª morte faz 'operação de guerra' contra febre amarela

Américo Brasiliense registrou óbito em janeiro; dois meses depois, foram 3,5 mil domicílios visitados e 2,4 mil pessoas vacinadas apenas na área urbana

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:
Estratégia. Moradores instalam placas de alerta Foto: ELIANA MARSILI

SOROCABA - Desde que a cidade registrou a primeira morte por febre amarela no Estado de São Paulo, em janeiro deste ano, os 38,2 mil habitantes de Américo Brasiliense, na região norte do Estado, estão em guerra contra o vírus. Dois meses após o óbito, o Departamento de Saúde contabiliza 3,5 mil domicílios visitados e 2,4 mil pessoas vacinadas apenas na área urbana. Na zona rural, onde aconteceu a contaminação, equipes foram de casa em casa e aplicaram 130 vacinas. 

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Desde janeiro, a prefeitura retirou 150 caminhões com possíveis criadouros de mosquitos transmissores da doença, entre eles o Aedes aegypti, que também transmite dengue, vírus da zika e chikungunya. Cartazes de alerta foram espalhados pelo município. Grande parte desse trabalho é feita por voluntários, segundo a diretora de Saúde do município, Eliana Marsili. "Mais de 150 pessoas se apresentaram para nos ajudar nos trabalhos de panfletagem e orientação da população."

No retorno das aulas, a campanha contra a doença entrou nas escolas. Os alunos foram desafiados a fazer trabalhos sobre a febre amarela e a levar o conteúdo para os pais. "Está sendo realmente uma operação de guerra. Tivemos até uma equipe da Força Nacional da cidade para nos ajudar. O resultado é que não tivemos nenhum outro caso", disse.

Cachoeira. A única vítima da febre amarela, Luíza Pires de Oliveira, de 68 anos, moradora do bairro urbano Santa Terezinha, morreu no dia 3 de janeiro, depois de apresentar os sintomas da doença. A filha Regina de Oliveira Garcia conta que, no dia de Natal, depois do almoço em família, a mãe quis ir à Cachoeira do Pirapora, que fica na zona rural de Santa Lúcia, cidade vizinha. "Ela estava muito bem de saúde e, naquele domingo almoçou com a gente, animada e bem disposta. Com fazia muito calor, foi dela a ideia de irmos na cachoeira. Já no dia seguinte começou a passar mal."

Regina conta que dona Luíza começou a reclamar de dores de cabeça, febre e que vomitava tudo o que comia. Regina levou a mãe ao pronto-socorro do Hospital Municipal, onde ela tomou soro e fez exames de sangue e urina. No dia seguinte, a mãe continuou com vômitos e na quarta-feira, 28, no retorno ao médico, ela foi informada sobre a suspeita de dengue.

Nos dias seguintes dona Luíza continuava mal e, segundo a filha, os médicos continuavam falando em dengue, até que decidiram transferir a paciente para a Santa Casa de Araraquara. "Lá, ela foi direto para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e não saiu mais com vida. Só então houve diagnóstico da febre amarela." A doença foi confirmada por exames no Instituto Adolfo Lutz.

A morte, a primeira causada pela doença este ano no Estado, foi constatada no dia 3 de janeiro. O caso foi tratado como autóctone (contraído na própria cidade), pois a vítima não viajou para outras regiões. Ela não tinha recebido a vacina. Segundo Regina, sua mãe era uma mulher forte e, apesar de ter sofrido um enfarte, dois anos atrás, continuava muito ativa. Luíza tinha ficado viúva havia 20 anos, com 11 filhos. O mais novo, de 24 anos, morava com ela. Além dos filhos, dona Luíza deixou 12 netos e seis bisnetos. "Minha filha de três anos ainda pergunta por ela e digo que vovó está no céu", diz Regina. 

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