SÃO PAULO - Um grupo internacional de pesquisadores desenvolveu um novo exame de sangue para o diagnóstico da zika que, segundo eles, é mais barato, mais rápido e consegue detectar se o paciente foi infectado de poucas horas até meses após a exposição ao vírus.
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Os pesquisadores descrevem o novo método em um artigo publicado nesta terça-feira, 6, na revista científica mBio. De acordo com eles, o novo teste será uma poderosa ferramenta para diagnosticar a zika em mulheres durante a gravidez.
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Segundo os cientistas, a taxa de falsos positivos ou falsos negativos do novo teste fica abaixo de 5%.
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"Muita gente que é infectada pela zika não tem sintomas, ou não consegue ir a um médico na fase inicial, aguda, da infecção - o que dificulta o diagnóstico. Nosso novo teste expande a janela para a detecção precisa do vírus, que era de apenas algumas semanas, para vários meses", disse a autora principal do estudo, Nischay Mishra, pesquisadora do Centro para Infecção e Imunidade da Universidade Columbia (Estados Unidos).
Segundo a pesquisadora, o diagnóstico da zika é complexo. Os testes moleculares só são confiáveis se forem feitos em um período de duas a três semanas após a infecção, quando o vírus ainda está circulando na corrente sanguínea.
Já os testes de anticorpos têm problemas com falsos positivos, porque eles apresentam as chamadas "reações cruzadas" com outros vírus - isto é, eles acusam um diagnóstico de zika quando um paciente tem no sangue os vírus ou os anticorpos da dengue, da febre amarela e da encefalite japonesa, por exemplo.
Para desenvolver o teste, os cientistas analisaram amostras de sangue de crianças da Nicarágua - todas elas soropositivas -, obtidas por um projeto de pesquisas do governo do país da América Central. Com a análise, os pesquisadores identificaram uma sequência única de peptídeos - uma curta cadeia de aminoácidos - que se liga aos anticorpos do vírus da zika, mas não aos de outros vírus como o da dengue.
Em seguida, os pesquisadores adaptaram uma tecnologia de testes de baixo custo conhecida como Elisa à sequência de peptídeos identificada. Em geral, os testes Elisa usam trechos maiores de proteínas que se ligam ao vírus.
O novo teste, segundo os autores, é altamente específico - isto é, não provoca reação cruzada com anticorpos de outros vírus - e sensível. A taxa de falsos negativos ou falsos positivos é de menos de 5% duas a três semanas após a fase aguda da doença, mesmo quando não há sintomas.
Ainda segundo os cientistas, o novo teste é capaz de analisar até 200 amostras em quatro horas e terá custo semelhante aos testes Elisa hoje amplamente utilizados em análises clínicas.
Além dos cientistas da Universidade Columbia, participaram do estudo pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley; do Instituto de Pesquisas do Exército Walter Reed; do Departamento de Saúde e Higiene Mental de Nova York; do Departamento Estadual de Saúde de Nova York - todas instituições dos Estados Unidos -; da empresa Roche Diagnostics; da Universidade Erasmus (Holanda); e do Ministério da Saúde da Nicarágua.