Cientistas ligam mecanismos neurológicos à vulnerabilidade a ansiedade

Estudo pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos para indivíduos que sofrem de ansiedade crônica

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Por Redação
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Uma nova pesquisa que examina o cérebro de alguém em estado de ansiedade durante tarefas de condicionadas oferece uma possível explicação sobre o por quê alguns indivíduos podem ser mais predispostos a distúrbios de ansiedade. O estudo, publicado na última edição da revista "Neuron", revela mecanismos neurais que podem contribuir para uma maior resistência ao medo e à ansiedade patológica. As descobertas podem ajudar a direcionar as estratégias terapêuticas para os indivíduos que sofrem de ansiedade crônica, bem como tratamentos que podem ajudar a evitar o desenvolvimento de transtornos de ansiedade.

 

 

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"Nós estávamos interessados em examinar porque é que alguns de nós podemos superar os pequenos medos e ansiedades que vivenciamos em nossas vidas com mais facilidade do que outros", explica a autora sênior do estudo, Dra. Sonia J. Bishop, da Universidade de Berkeley, Califórnia. "Ou, em outras palavras, quais as diferenças nas funções cerebrais que podem conferir maior vulnerabilidade para o medo crônico e transtornos de ansiedade?"

 

Estudos anteriores relacionaram uma estrutura cerebral chamada amígdala na aquisição e expressão do medo condicionado, que ocorre quando um estímulo (o estímulo condicionado, CS em sua sigla em inglês) torna-se associado a um objeto ou evento aversivo (o estímulo incondicionado, UCS em inglês). Outra região do cérebro, o córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC em inglês) tem se mostrado tanto em animais e humanos auxiliar na inibição do medo condicionado após o treinamento, durante o qual o CS é repetidamente apresentado sem a UCS. No entanto, não está claro como certas características de personalidade, como uma tendência ou vulnerabilidade para a ansiedade, influenciam nesses mecanismos.

 

A Dra. Bishop e colaboradores realizaram um estudo de neuroimagem para examinar o condicionamento do medo nos seres humanos que haviam sido classificados com variados níveis de "traços de ansiedade", uma tendência a sofrer de ansiedade por uma série de situações cotidianas. Os pesquisadores observaram que os indivíduos que tinham um alto nível de traços de ansiedade foram mais propensos a ter uma resposta da amígdala para sinais de medo de CS e mostrar mais rápida aquisição do "medo aprendido" desses sinais. As diferenças individuais na resposta da amígdala foram independentes da segunda dimensão de risco, desta vez envolvendo a vmPFC. A ativação dessa região durante a expressão de medo condicionado, antes de sua finalização, foi ligada com a maior redução nas respostas de medo e foi mais pronunciado nos indivíduos com medo resiliente.

 

Os resultados sugerem que as diferenças individuais na amígdala e função vmPFC estão independentemente associadas à vulnerabilidade à ansiedade, com a amígdala potencialmente influenciando o desenvolvimento de medos específicos (ou fobias) e o vmPFC impactando a capacidade de regular negativamente os medos passageiros e ansiedade generalizada. "Uma compreensão dos mecanismos cognitivos pelos quais é conferida a vulnerabilidade característica e a ansiedade patológica, pode ajudar não só a explicar a variabilidade dos sintomas, mas também na melhor escolha da intervenção necessária e previsão da resposta ao tratamento", conclui a Dra. Bishop.

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