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Clima de SP atinge idosos e crianças de formas diferentes, diz USP

Doenças respiratórias atingem as duas fases, mas os mais velhos também sofrem com circulação

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Por Redação
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SÃO PAULO - O organismo de crianças menores de 5 anos e de idosos acima de 60 reage de forma diferente quando se expõe à poluição atmosférica da cidade de São Paulo. Segundo uma pesquisa apresentada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, as doenças respiratórias podem aparecer nas duas fases da vida, mas os idosos sofrem também com problemas no aparelho circulatório. Para a tese de doutorado "Ambientes atmosféricos intraurbanos da cidade de São Paulo e possíveis correlações com doenças dos aparelhos respiratório e circulatório", a geógrafa Edelci Nunes da Silva analisou a parte Sul/Sudeste da cidade de São Paulo, dividindo-a em 14 distritos: Ibirapuera, Moema, Vila Mariana, Santo Amaro, Campo Belo, Socorro, Saúde, Cursino, Sacomã, Jabaquara, Cidade Ademar, Pedreira, Campo Grande e Cidade Dutra. Nessa região, há duas estações meteorológicas, uma no Aeroporto de Congonhas e outra no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. A partir delas, a pesquisadora teve uma boa base de dados para avaliar o clima nesses distritos entre os anos de 2003 e 2007. Para a realização da pesquisa, Edelci fez uma associação estatística entre dados de internação e variáveis climáticas como temperatura, umidade relativa do ar, amplitude térmica e índice de conforto. Assim, foi possível separar os distritos por perfis socioambientais, que mostraram que a poluição atmosférica não era sempre o principal fator de aumento do risco de internações. “A temperatura e a amplitude térmica também são fortes fatores de influência”, diz a pesquisadora. Edelci analisou 12.269 casos de internação por doenças respiratórias em crianças. Nos idosos, observou 24.318 internações por doenças do sistema circulatório e 8.894 do aparelho respiratório. Foi constatado, de forma geral, que tanto as doenças circulatórias nos idosos quanto as doenças respiratórias em ambas as idades apresentam maior risco de internação quando as pessoas se sentem desconfortáveis com baixas temperaturas e com alta amplitude térmica - e não necessariamente com a poluição do ar. Para classificar a magnitude dos efeitos climáticos nos 14 distritos, a geógrafa classificou os perfis socioambientais de cada um deles em três categorias: melhor, intermediário e pior. A partir daí, foi possível distinguir o que mais incomoda crianças e velhos e quais regiões se mostram mais perigosas para o organismo de cada um, dependendo da idade. Amplitude térmica A pesquisadora conta que as pessoas com mais de 60 anos correm maior risco de internações por problemas circulatórios em distritos que apresentam amplitude térmica alta. Porém, a poluição não foi significativa nessa parte do estudo. “Não houve associação expressiva entre as duas coisas”, explica Edelci. As áreas de maior risco entre os 14 distritos, segundo a pesquisadora, são Jabaquara, Cidade Ademar e Pedreira. Analisando mais a fundo a situação do clima no Jabaquara, notou-se que esse bairro também foi o que apresentou maior amplitude térmica e, ao mesmo tempo, temperaturas mais baixas, causando desconforto também no aparelho respiratório dos idosos, tornando o distrito ainda mais agressivo às pessoas dessa faixa etária. Por fim, analisando as consequências do clima de cada distrito no aparelho respiratório das crianças, Santo Amaro se mostrou o bairro mais inadequado: o desconforto causado nos menores por conta do frio e do aumento da amplitude térmica aumenta o risco de internações por doenças respiratórias. A poluição da região também atinge mais as crianças. Contudo, a geógrafa diz que não é só o clima que torna grande e iminente o risco de internações. “As más condições de urbanização da cidade agravam o desconforto térmico e aguçam os efeitos das temperaturas e da amplitude térmica", afirma. Soluções Sobre as medidas que devem ser tomadas, a pesquisadora diz que é necessário intervir no espaço, para que as condições de vida sejam melhoradas e as pessoas possam ficar mais protegidas contra as situações climáticas extremas. “A intervenção pode ser tomada em dois níveis: o primeiro seria um planejamento urbano com a implementação de fatores controladores do clima, como arborização, praças, arruamentos e políticas para diminuição das emissões de poluente; e o segundo seria em casa, na melhoria nas condições construtivas para proteção dos moradores”, explica. Edelci também enfatiza a importância da intervenção na educação: “Devem ser feitas campanhas de esclarecimento e conscientização dos efeitos adversos do clima e deve haver também uma orientação sobre atitudes que podem proteger do frio, do calor ou da poluição”, completa.

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