Com chegada do calor, cidades se mobilizam para evitar dengue

Mutirões em parceria com o governo estadual são organizados em municípios para fazer uma varredura em 35 milhões de imóveis

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Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela e Felipe Resk
Atualização:
Receio. Para Deloste, a prevenção 'não foi intensificada' Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Com a chegada mais cedo do calor e das chuvas, cidades do interior de São Paulo se mobilizam para diminuir o risco de nova epidemia de dengue. Para combater a proliferação do Aedes aegypti, mosquito que também transmite chikungunya e zika, agentes estão vasculhando casas e aumentando o cerco a imóveis que podem abrigar criadouros. A estratégia também é seguida na capital.

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Foram registrados 154.180 casos confirmados de dengue e 77 mortes no Estado, até agosto deste ano, segundo a Secretaria Estadual da Saúde. O período epidêmico é entre fevereiro e maio, mas o esforço antecipado serve para evitar aumento de ocorrências - como aconteceu em 2015, com 675.129 casos e 482 mortes no mesmo período.

Em Sorocaba, a prefeitura fará uma reunião hoje para preparar o combate ao mosquito. “A ação deve começar agora para se refletir no momento da epidemia”, diz o diretor de Vigilância em Saúde, Rafael Reinoso. Em 2015, a cidade registrou uma grande epidemia, com 60 mil casos e ao menos 30 mortes. 

Mutirões em parceria com o governo estadual são organizados em várias cidades. Desde janeiro, 35 milhões de imóveis passaram por varredura - o governo paga salário extra para agentes que trabalham aos sábados. A Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) passou a contar com mil agentes para auxiliar as prefeituras. 

Em um mutirão feito no sábado, agentes visitaram 7,5 mil imóveis em São José do Rio Preto. Em São José dos Campos, onde todos os agentes têm a foto divulgada no site para evitar a desconfiança dos moradores, a busca aconteceu em 12,5 mil imóveis do município. 

Já em Ribeirão Preto um sistema permite acompanhar em tempo real a evolução dos casos em cada bairro. Neste ano, foram confirmados 35.020 casos e sete mortes por dengue. Os mutirões foram intensificados desde setembro. Presidente Prudente prevê a vistoria de 4,2 mil imóveis até o fim do mês. “Assim, vamos direcionar as ações de controle para as áreas mais críticas”, diz a educadora de saúde Elaine Bertacco, da Vigilância Epidemiológica.

Em Bauru, a prefeitura fiscalizou cerca de 7 mil imóveis. Em Birigui, 122 agentes visitaram todas as casas de três bairros no sábado. A prefeitura de Votuporanga autuou 740 proprietários após 12,8 mil vistorias.

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MORADORES TENTAM EVITAR SURTO

Na capital, moradores de áreas que já sofreram com epidemia de dengue estão se preparando para o período quente. Eles tomam precauções para evitar contrair a doença e também cobram rigor na fiscalização dos criadouros. 

Morador da Brasilândia, área da zona norte de São Paulo com recorde de casos de dengue em 2015, Henrique Deloste, de 49 anos, diz estar preocupado com o surgimento de focos da doença. “Em casa, nunca tive problema porque não é difícil seguir as orientações. Mas a preocupação é um córrego e a prevenção que não foi intensificada.”

A Prefeitura de São Paulo diz que o trabalho de prevenção é contínuo. Dados de outubro apontam que houve 15.917 casos confirmados de dengue, ante 100.279 no mesmo período de 2015. A redução é de 84%. 

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Segundo o coordenador das Ações de Controle do Aedes Aegypti, Alessandro Giangola, agentes de saúde visitam 2,5 mil imóveis estratégicos - como borracharias e desmanches de carro - a cada 15 dias. Também fazem vistoria uma vez por mês em 3,5 mil locais de grande circulação, como igrejas e escolas. Ao detectar focos, é aplicado larvicida. “O mais importante é eliminar o criadouro para não ter mosquito adulto”, diz.

No interior, o representante comercial Abílio Rosa Neto, de 37 anos, tenta evitar o drama de fevereiro de 2015, quando ele, a mulher e a filha contraíram dengue em Sorocaba. “Foram duas semanas quase o tempo todo na cama. Não gosto nem de lembrar.” Segundo Rosa Neto, quase todas as casas da rua dele tiveram casos. Com a chegada do verão, o casal já começou a fazer estoque de repelentes. “Estamos usando todo dia. Aqui em casa, mosquito não tem a menor condição de criar.”