Dengue avança no período frio e dificulta controle em São Paulo
De 6 a 13 de junho foram registrados 22,8 mil novos casos no Estado, além de terem sido confirmadas mais 23 mortes; nos meses frios, número de casos costuma despencar
Por José Maria Tomazela
Atualização:
SOROCABA - Embora tenham diminuído, os casos de dengue continuam acontecendo no Estado de São Paulo, mesmo com a chegada do período frio. Dados do Ministério da Saúde mostram que, na semana de 6 a 13 de junho, foram registrados 22,8 mil novos casos no Estado, além de terem sido confirmadas mais 23 mortes. O número de pessoas que ficaram doentes neste ano no Estado subiu para 536,3 mil e o total de óbitos confirmados chegou a 283. No Brasil, segundo o Ministério, foram contabilizados desde janeiro 1,12 milhão de doentes e 434 mortes.
PUBLICIDADE
Para o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Edson Duarte Moreira Junior, os números da dengue indicam que seu principal vetor, o mosquito Aedes aegypti, está ganhando a guerra. "Estamos numa situação extremamente grave, pois oferecemos ao transmissor todas as condições para que se prolifere e as tentativas de controle não têm sido eficazes. O vetor é inteligente, adaptado ao nosso meio e está sendo favorecido pelas mudanças climáticas." Ele lembra que, em anos anteriores, a chegada do frio era uma barreira para a dengue, o que não ocorre este ano, como indicam os números do Ministério.
A região Sudeste, com clima mais ameno, tem 64,5% dos casos no País, enquanto a região Nordeste, de clima mais quente, aparece em segundo lugar com 16,5%. Cidades paulistas lideram o ranking nacional da dengue nas quatro categorias populacionais, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério: Onda Verde entre os municípios com até 100 mil habitantes; Catanduva na faixa de 100 mil a 499 mil; Sorocaba entre as cidades com mais de 500 mil e menos de um milhão, e Campinas, acima de um milhão.
Dicas para evitar o mosquito 'Aedes aegypti'
1 / 7Dicas para evitar o mosquito 'Aedes aegypti'
'Aedes aegypti'
O mosquito 'Aedes aegypti' é transmissor do zika vírus, da dengue e da chikungunya; veja a seguir dicas para evitá-lo Foto: James Gathany/CDC/AP
Lixo
O lixo espalhado é foco do mosquito. Deixa sempre os resíduos ensacados para coleta Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Piscinas
As piscinas podem ser focos do mosquito. Para evitar a reprodução de lavas, a água deve estar sempre tratada Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Pneus
Para evitar a água acumulada, é importante guardar os pneus secos e em locais cobertos Foto: Fábio Motta/Estadão
Vasos
Quem tem vaso de plantas em casa deve tomar cuidado extra. Para evitar a proliferação do mosquito, é preciso deixar a água escorrer e preencher o espa... Foto: Epitácio Pessoa/EstadãoMais
Garrafas
Esvazie a água presente nas garrafas e guarde-as com o gargalo sempre para baixo Foto: HÉLVIO ROMERO/AE
Caixa d'água
Manter a caixa d'águatampada é indispensável para evitar a proliferação do 'Aedes aegypti' Foto: Paulo Liebert/Estadão
Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que a dengue é um problema de saúde pública em mais de 125 países, expondo à doença metade da população mundial - 3,9 milhões de pessoas. Nas Américas, o crescimento mais expressivo de pessoas infectadas e de óbitos ocorreu no Brasil. Os outros países do Cone Sul não tiveram mortes por dengue em 2015.
Mudanças climáticas e urbanização. Números do Ministério da Saúde mostram que, entre 2002 e 2014, o país teve 7,4 milhões de casos da doença. A incidência ocorreu em todas as faixas etárias, mas constatou-se aumento entre as crianças, adolescentes e jovens adultos entre 19 e 25 anos. A partir de 2002, ocorreu um aumento importante de incidência de casos graves, segundo o pesquisador da Fiocruz. "Durante os anos, vem se percebendo uma duração maior dos surtos ou epidemias. As razões, além das mudanças climáticas e da urbanização rápida, podem estar na evolução do vírus."
De acordo com Moreira Júnior, se antes uma fêmea gerava 200 filhotes por ciclo, hoje ela gera cinco vezes mais, graças à abundância de alimento - o sangue humano. As aglomerações urbanas e o lixo moderno, com abundância de plástico, favorecem a proliferação. A doença causa impacto social e econômico significativo, segundo ele. "A América Latina gasta 2,1 bilhões de dólares por ano apenas para tratar a doença, sem considerar o custo do controle do vetor, que é ainda mais caro. Mesmo assim, não está havendo uma reversão nos casos."
Cobertura do Estadão na primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
1 / 14Cobertura do Estadão na primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Em reportagem de 03 de maio de 1986, o Estadão registrou a situação alarmante dos casos de dengue no Estado do Rio de Janeiro. Foto: Acervo Estadão
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Em 06 de março de 1877, O Estado de S. Paulo, que então se chamava A Província de S. Paulo, publicou o relato que Dr. Ribeiro da Cunha fez ao periódic... Foto: Acervo EstadãoMais
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
O primeiro registro de epidemia de dengue no Brasil foi em São Paulo, em 1916, segundo a Fiocruz. No entanto, elanão foidocumentadaclinicamente. O Est... Foto: Acervo EstadãoMais
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Na edição de 01 de maio de 1986, o Estadão trazia como reportagem principal as medidas tomadas pelo então governador Franco Montoro para evitar que a ... Foto: Acervo EstadãoMais
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Em 14 de maio de 1986, o caderno de esportes noticiava a suspeita de jogadores do Fluminense estarem com dengue. Em 2015, com o Estado sob epidemia, f... Foto: Acervo EstadãoMais
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
"Ninguém queria se responsabilizar pelo mosquito", conta Antônio Marasciulo, que coordenou equipe que descobriu a epidemia de dengue de 1986. No Brasi... Foto: Acervo EstadãoMais
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Assim como neste ano, em 1986 o Exército também foi mobilizado no combate aos focos de mosquito. A edição do Estadão de 22 de maio daquele ano, também... Foto: Acervo EstadãoMais
A primeira epidemia de dengue no País
Trecho de charge publicada no Estadão de 27 de maio de 1986. O medo da dengue estava no ar. Foto: Acervo Estadão
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Funcionários da Sucam, órgão federal, acusavam a Sucen, órgão estadual paulista, de desleixo no combate ao mosquito. De acordo com a reportagem, até a... Foto: Acervo EstadãoMais
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Em reportagem de 30 de abril de 1986, O Estado de S. Paulo registrava os procedimentos tomados por São Paulo na prevenção à doença. De acordo com a se... Foto: Acervo EstadãoMais
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Reportagem do jornal de 20 de maio de 1986 mostra que a epidemia deixava de ser um problema estadual para se tornar nacional. Foto: Acervo Estadão
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Apenas o Instituto Evandro Chagas conseguiu isolar o vírus da dengue em amostras que foram coletadas durante as investigações. Foi nesse momento que a... Foto: Acervo EstadãoMais
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Estadão de 17 de junho de 1986 registra a chegada da epidemia em Alagoas. Foto: Acervo Estadão
A primeira epidemia de dengue documentada no Brasil
Apesar do reaparecimento do mosquito, o primeiro registro de surto documentado clínica e laboratorialmente só ocorreu no verão de 1982, em Boa Vista, ... Foto: Acervo EstadãoMais
Na falta de controle mais eficaz, ele acredita que a vacina pode ser uma arma importante. Atualmente, quatro laboratórios trabalham no desenvolvimento de vacinas contra a dengue. O produto mais adiantado é da francesa Sanofi, que passou pela fase de desenvolvimento clínico e industrial e deve ser lançado entre o final deste ano e o início de 2016.
Publicidade
Imunizante. A vacina do Instituto Butantã, órgão do governo paulista, em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, finaliza a segunda fase de testes e aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para antecipar a fase três - a última do processo. Outras iniciativas, as vacinas da japonesa Takeda e da farmacêutica britânica GSK, com o Instituto de Tecnologia Imunobiológica (Bio Manguinhos) da Fiocruz, estão nesse mesmo estágio.