Especialista defende bancos de células-tronco públicos

Médico chileno Pablo Rubinstein é favorável à intervenção do governo para divulgar os prós e contras do armazenamento privado

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Por Roberta Pennafort
Atualização:
No Brasil, Pablo Rubinstein colaborou para a implementação do banco de armazenamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o primeiro do País, em 2001 Foto: Wilton Júnior/Estadão

RIO - Pioneiro no congelamento de sangue de cordão umbilical para transplantes e tratamento de doenças, o médico chileno Pablo Rubinstein, radicado nos Estados Unidos, acompanha há 22 anos o surgimento e o fechamento de bancos privados de armazenamento de células-tronco, que vendem serviços às famílias com base em promessas de cura de diversos males, da leucemia ao Parkinson.

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Especialista em imunogenética, ele defende que os governos intervenham para impedir que propagandas enganosas levem as pessoas a gastar fortunas com os procedimentos, e também para divulgar a importância das doações voluntárias para bancos públicos.

Hoje diretor do Programa Nacional de Sangue do Cordão Umbilical do Centro de Sangue de Nova York, Rubinstein foi o criador do sistema norte-americano que desde 1992 armazena sangue para aplicação em pacientes não aparentados dos doadores.

No Brasil, colaborou para a implementação do banco de armazenamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o primeiro do País, em 2001. Nesta quarta-feira, 20, ele foi homenageado pela equipe do hospital. Após visitar as instalações, onde estão armazenadas 5 mil unidades de sangue (juntando todos os 13 da Rede BrasilCord, são 18 mil, das quais 170 já usadas em transplantes), o médico deu entrevista ao Estado.

Rubinstein não defende o fim de bancos privados, como fizeram Espanha e França, e, sim, uma maior divulgação dos prós e contras do armazenamento pago - a coleta, feita na maternidade, custa por volta de R$ 4 mil, e a anuidade, cerca de R$ 1.000.

No caso do banco privado, as células só podem ser usadas no próprio paciente, e não há comprovação científica da eficácia futura (no caso das doenças genéticas e da leucemia, não são recomendadas). No público, ficam disponíveis para todos os pacientes que precisarem de transplante. Em média, a chance de compatibilidade é de 1 para 100 mil.

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"O objetivo do banco público é ajudar pacientes hoje. O do privado é hipotético, e o fim é fazer dinheiro. Do ponto de vista legal, é difícil privar as pessoas de guardarem sangue se quiserem e tiverem dinheiro para isso. Mas quando meus filhos me perguntaram o que fazer quando seus filhos nasceram, eu disse: 'Se não existem bancos públicos na cidade, não vale armazenar em particulares'."

E continuou: "Do ponto de vista social, é muito melhor investir num sistema que assista a todos, ricos e pobres, e dá a possibilidade de mais gente sobreviver a doenças fatais". "Os governos devem assegurar que as famílias recebam informações corretas. A gente já sabe que o que eles vendem não é verdade. É irritante ser inundado por certas propagandas na internet", desabafou Rubinstein.

Os números sustentam sua argumentação. "O melhor que podemos fazer é comparar bancos públicos e privados. O maior privado dos Estados Unidos tem mais de 500 mil unidades e foram transplantados menos de 200 pacientes; no nosso, são 60 mil unidades e já tratamos 5.200 pacientes."

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