RIO - O Estado do Rio de Janeiro registrou 115 casos de bebês com microcefalia (com o crânio menor que o tamanho normal) em 2015. No ano passado, haviam sido 10 casos - houve um aumento de 1.050% em 2015, portanto, em comparação com 2014. O balanço divulgado na tarde desta quarta-feira, 30, pela Superintendência de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde reúne dados registrados até esta terça-feira, 29, em dois sistemas do Ministério da Saúde.
Há suspeita de relação entre a incidência de casos de microcefalia e a infecção pelo zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo transmissor da dengue.
Dos 115 casos, 97 são de bebês que já nasceram e os outros 18 foram detectados durante o período intrauterino. Das 115 mães, 30 relataram histórico de manchas vermelhas pelo corpo ao longo da gravidez.
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, por causa do novo protocolo de vigilância estabelecido pelo Ministério da Saúde, que classifica como vítimas de microcefalia bebês com perímetro cefálico menor ou igual a 32 centímetros, foi feita uma revisão dos casos registrados. Foram excluídos os casos com nascimento até maio de 2015 que não se encaixam nessa definição. A data foi estipulada porque se trata de quando o Zika vírus começou a circular no Estado do Rio.
Desde 18 de novembro de 2015, quando se tornou obrigatória no Estado a notificação de gestantes com manchas vermelhas na pele (exantema), já foram notificados 1.323 casos de grávidas nessas condições. Até esta quarta-feira, porém, só 12 tiveram a confirmação de zika vírus, e ainda não se sabe se esses fetos apresentam microcefalia. O resultado positivo para zika vírus não configura a existência de microcefalia.
Desde junho de 2015, quando tornou obrigatória a notificação de casos de síndromes neurológicas agudas com histórico de manchas vermelhas (exantema) no Estado do Rio, foram notificados 11 casos da Síndrome de Guillain-Barré - cinco deles possuem relato de exantema, quatro seguem em processo de investigação e dois foram descartados.
Essa síndrome é uma doença neurológica de origem autoimune, cujo principal sintoma é a fraqueza muscular generalizada. Em casos mais graves, pode ocorrer paralisia da musculatura respiratória. A síndrome foi relacionada à infecção por zika vírus após uma epidemia ocorrida na Polinésia Francesa, quando o número de casos da doença aumentou 20 vezes.
Embora não seja possível estabelecer uma relação direta entre a infecção por zika vírus e a Síndrome de Guillain-Barré, o Ministério da Saúde recomenda o monitoramento de todos os casos notificados de complicação neurológica pós infecção pelo vírus. No Estado do Rio, a notificação é obrigatória desde junho.
Microcefalia. A microcefalia é uma condição rara em que o bebê nasce com o crânio menor do que o normal. Na maioria dos casos, é resultado de alguma infecção adquirida pela mãe durante a gravidez, como toxoplasmose, rubéola ou citomegalovírus, além de abuso de álcool ou drogas e em síndromes genéticas, como a Síndrome de Down.
Em 90% dos casos, a microcefalia está associada a um atraso no desenvolvimento neurológico, psíquico ou motor. Não há como reverter a microcefalia, mas é possível melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança.
Zika vírus. Descoberto na década de 1940 em Uganda, o zika vírus só foi identificado nas Américas em 2014. A doença é transmitida pelo Aedes aegypti, mesmo transmissor da dengue, e causa febre, manchas pelo corpo, coceira, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações. O tratamento inclui hidratação e medicamentos para os sintomas, e geralmente o paciente se cura após quatro ou cinco dias.
Por ser uma doença nova, sem muitos registros na literatura médica, ainda não há evidências científicas que comprovem a relação entre o vírus em gestantes e o nascimento de crianças com microcefalia. Por precaução, é fundamental que mulheres grávidas reforcem medidas de proteção individual, como usar repelentes e evitar locais e períodos com maior infestação do mosquito.