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Estudo desvenda ação do veneno de jararaca no local da picada

Pela primeira vez, cientistas observaram toxina da cobra agindo nos vasos sanguíneos

Por Carlos Orsi
Atualização:

Além do efeito tóxico que atinge o corpo todo e é combatido pelo soro antiofídico, o veneno das cobras botrópicas, a família das jararacas, tem uma ação específica no local da picada que pode causar inflamação, hemorragia e, em alguns casos, levar à necrose e à amputação da parte atingida. Pesquisa encabeçada por cientistas brasileiros mostra que uma proteína envolvida no efeito local, a jararagina, acumula-se junto aos vasos sanguíneos, danificando-os e precipitando a hemorragia. Essa descoberta pode apontar o caminho para novos tratamentos.

 

 

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A jararagina já havia sido isolada em 1991, explica a principal autora do trabalho, Cristiani Baldo, do  Laboratório de Imunopatologia, Instituto Butantã. Mas só agora seu mecanismo de ação foi observado e comprovado. "Injetamos a proteína, marcada, em camundongos e vimos que ela se localiza bem perto do vaso sanguíneo, e degrada o vaso", disse.

 

Uma possibilidade de tratamento aberta pelo estudo, publicado no site PLoS Neglected Tropical Diseases, seria o uso, em combinação com o soro antiofídico, de inibidores de metaloproteinase, a classe de proteínas a que a jararagina pertence.

 

"Mas é preciso estudar qual o inibidor mais adequado, ver se os inibidores não teriam um efeito ruim na saúde", alerta a pesquisadora. "Tudo começa na pesquisa básica, mas para chegar a um tratamento são necessários mais estudos, num processo de anos".

 

Dados do Ministério da Saúde dão conta de que, no Brasil, em 2008, ocorreram cerca de 26.900 acidentes envolvendo cobras venenosas, sendo mais de 70% deles com cobras da família das jararacas. Das picadas de jararaca, sequelas relacionadas a complicações locais, como as causadas pela jararagina, aparecem em 10% dos casos.

 

Em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 5 milhões de pessoas sofram picadas de cobra a cada ano, com 2,5 milhões de envenenamentos. O total estimado de mortes é de 100.000, e o de amputações e outras complicações causadas pelas picadas chega a 300.000.

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