Estudo vincula videogames ao agravamento de distúrbios mentais

Pesquisadores avaliaram mais de 3 mil crianças em Cingapura durante dois anos

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

NOVA YORK - Os olhos fixos de crianças que gastam muito tempo e energia em videogames podem esconder distúrbios mentais, de acordo com um novo e controverso estudo publicado na revista Pediatrics e realizado durante dois anos com mais de 3 mil crianças de Cingapura em idade escolar. A pesquisa constatou que um em cada dez menores era viciado em jogos, e a maioria não conseguia se livrar do problema. Segundo os autores, embora as crianças avaliadas já tivessem mais propensão a mostrar desvios de comportamento, o uso excessivo de videogames aparentemente agravou esses transtornos mentais. Em média, os participantes jogavam cerca de 20 horas semanais. Cerca de 9% a 12% dos meninos foram qualificados como dependentes, contra de 3% a 5% das meninas. A Academia Americana de Pediatria, que publicou o trabalho, recomenda limitar em duas horas diárias o tempo dos pequenos em frente a computadores e TVs. "Quando as crianças se viciam, a depressão, a ansiedade e as fobias sociais delas pioram, e suas notas caem", disse Douglas Gentile, diretor do Laboratório de Pesquisa de Mídia da Universidade de Iowa, na cidade de Ames, e um dos participantes do estudo. "Quando elas conseguiram superar o vício, a depressão, a ansiedade e as fobias melhoraram", contou. Gentile afirmou que nem os pais nem os profissionais de saúde estão prestando atenção suficiente para os efeitos dos videogames sobre a saúde mental dos menores de idade. "Tendemos a encarar esses games apenas como entretenimento ou um simples jogo e esquecemos que o entretenimento também pode nos afetar", destacou o diretor. "De fato, se não nos afeta, o definimos como 'chato'". Um especialista independente, porém, disse que o estudo tem falhas consideráveis. "Minha pesquisa mostrou que jogar games demais não torna necessariamente uma pessoa viciada, e muitos jogadores podem fazer isso por longos períodos sem que haja efeitos prejudiciais", argumentou Mark Griffiths, diretor da Unidade Internacional de Pesquisa sobre Videogames da Universidade Nottingham Trent, no Reino Unido. "Se 9% das crianças são verdadeiramente viciadas, não haveria clínicas de dependência suficientes em cada cidade", disse Griffiths, acrescentando que esse conceito ainda não é um diagnóstico aceito entre psiquiatras e psicólogos. Parte do problema, acrescenta ele, é que o novo trabalho pode ter medido "interesse" em vez de "vício". No estudo, os professores entregaram questionários aos estudantes na terceira, quarta, sétima e oitava séries, incluindo perguntas sobre seus hábitos de jogo, habilidades sociais, desempenho escolar e depressão. As crianças também responderam a dez questões para descobrir se eram viciadas em jogos - os chamados jogadores patológicos. Quem respondeu metade das questões de forma afirmativa obteve esse rótulo. As perguntas incluíam coisas como ter negligenciado tarefas domésticas para gastar mais tempo com videogames; sair-se mal em um trabalho escolar ou teste; ou jogar para escapar de problemas ou sentimentos ruins. Entre aqueles que começaram o levantamento como dependentes, mais de oito em cada dez permaneceram assim. "Não é simplesmente um problema de curto prazo para a maioria", destacou Gentile. Apesar de os pesquisadores não terem definido um número sobre quantas crianças tinham distúrbios mentais, eles afirmam que descobriram evidências que relacionam o número de horas a um comportamento impulsivo e a problemas de relacionamento social. Em um levantamento realizado anteriormente nos EUA, Gentile descobriu que as crianças que assistem muita TV e jogam games demais tinham mais dificuldade de concentração em trabalhos escolares. Entretanto, esse estudo não poderia provar que o tempo na frente da tela causava o problema de falta de atenção. Em geral, Griffith diz que os pais tentam dar aos filhos jogos educativos em vez de violentos, incentivá-los a brincar em grupo e seguir as instruções dos fabricantes, como sentar pelo menos a dois metros da tela e não jogar quando estiver cansado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.