Europeus apresentam indícios da ‘partícula de Deus’

Laboratório entre a Suíça e a França compete com o Fermilab, dos Estados Unidos, que também viu sinais do bóson de Higgs

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Por Jamil Chade e correspondente em Genebra
Atualização:

Nesta quarta-feira, 4, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) anuncia em Genebra o mais importante indício da existência do bóson de Higgs, a partícula que, para muitos, fecharia a explicação sobre a formação do Universo – por isso, é apelidada de “partícula de Deus”.

No início da semana, nos EUA, outro experimento apontou para a mesma direção. Juntos, os dois esforços custaram mais de US$ 10 bilhões e envolveram cientistas de mais de 40 países. Os resultados de ambos devem ser comparados hoje. No Cern, cientistas dizem que a revelação sobre o “Santo Graal” da Física só teria como rival a descoberta da estrutura do DNA, há 60 anos. “É a semana mais excitante da história da Física”, declarou Joe Lykken, do Fermi National Accelerator Lab (Fermilab), que conduziu as pesquisas nos EUA. Ao Estado, um cientista envolvidos na pesquisa na Suíça indicou que o acelerador de partículas do Cern obteve sinais sobre o que seria o equivalente a “sombras” e “pegadas” da partícula, que ainda não foi vista. Nos anos 1960, Peter Higgs teorizou que uma energia invisível preenche um vácuo no espaço. Ao se moverem, partículas são puxadas uma contra as outras, dando massa a um átomo. Já as partículas da luz não sentem essa atração e não têm massa. Sem a partícula responsável por unir as demais, átomos não conseguiriam ser formados no início do Universo e a vida como a conhecemos não existiria. Mas essa partícula hipotética – o bóson – jamais foi encontrada. O Cern e o Fermilab realizaram milhões de choques de prótons, sem que um sinal do bóson fosse registrado durante meses. O projeto chegou a ser retirado da lista de prioridades, mas, em meados de 2011, começaram a aparecer os primeiros sinais. Os dois grupos decidiram não compartilhar seus dados e fixar um prazo para os testes. O objetivo era não ser influenciado pelo outro e, ao mesmo tempo, promover uma corrida. Um primeiro resultado surgiu em dezembro. Mas os cientistas julgaram que era cedo para comemorar. O resultado a ser divulgado hoje entraria no que os pesquisadores chamam de um “intervalo de confiança”, ainda que especialistas em outras áreas já estariam declarando vitória se obtivessem um resultado similar. A perspectiva é de que a margem de erro seja de 1 para 30 mil. Mas isso ainda não seria suficiente: no Cern, uma descoberta só tem validade se a chance de erro for 1 a cada 3 milhões – ou seja, 99,99997% de certeza. Política. Há cientistas que criticam a pressa do Cern em apresentar resultados, já que a coleta de dados só ocorreu nos últimos 18 meses. Mas ela atende a uma lógica política. Um resultado convincente dos europeus colocaria o continente adiante dos EUA. Os financiadores do projeto – os governos europeus – não disfarçam a necessidade de justificar os gastos.

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