Ferramenta da USP e Unesp tenta prever curva de infectados e mortos por coronavírus em SP

Com dados das prefeituras e análise por modelos matemáticos e técnicas de inteligência artificial é possível antever o comportamento da pandemia; Guarulhos, Cotia, Barretos e Franca devem ter alta de casos

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Por Gonçalo Junior
Atualização:
Pesquisadores da USP e da Unesp desenvolveram uma ferramenta para projetar o número de infecções, óbitos e pacientes recuperados da covid-19 em São Paulo. A partir dos dados fornecidos pelas prefeituras, analisados por modelos matemáticos e técnicas de inteligência artificial, os professores conseguem antever o comportamento da doença em cada uma das 22 sub-regiões do Estado no período de sete a dez dias com 95% de acerto.

Pesquisadores da USP e da Unesp desenvolveram uma ferramenta para projetar o número de infecções, óbitos e pacientes recuperados da covid-19 em São Paulo Foto: AP Photo/Eraldo Peres

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De acordo com a atualização desta última segunda-feira, as previsões do número efetivo de reprodução e de novos casos ativos apontam que Araçatuba, Grande SP Sudeste e Norte (subdivisões da Grande São Paulo), São João da Boa Vista, Registro e Piracicaba são regiões com “provável controle da transmissão”. Por outro lado, Barretos, Franca, Grande SP Leste (Suzano, Santa Isabel, Poá, Mogi, Itaquá, Guarulhos, Ferraz de Vasconcelos, Arujá) e Sudoeste (Vargem Grande Paulista, Taboão, Itapecerica, Embu e Cotia) são regiões com “provável aumento no número de casos” nos próximos dias. Disponível na internet para acesso público, a plataforma SP Covid Info Tracker reúne informações sobre 91 cidades que hoje correspondem à aproximadamente 92% do número de casos e de óbitos no estado. É um universo de 35 milhões de pessoas. Para os governos, prever o comportamento da covid significa estimar a demanda por leitos hospitalares e planejar a retomada das atividades econômicas, entre outras ações. Para a população, é a oportunidade de acompanhar o controle da pandemia em sua própria região, sem se descuidar das medidas de prevenção. Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores coletam diariamente as informações da pandemia junto às prefeituras com alto grau de detalhamento. O dado é coletado no mesmo dia de sua ocorrência, o que permite um monitoramento em "tempo real" do avanço do novo coronavírus. O estudo está alinhado à divisão do estado em sub-regiões feita pela Secretaria Estadual da Saúde. Para projetar o comportamento da doença, o primeiro passo é a análise do histórico da doença nos últimos 60 dias em cada município. É uma forma de "treinar" o modelo matemático, baseado na modelagem SIR (Suscetível-Infectado-Recuperado) e bastante utilizado na análise da dinâmica de epidemias. Com a inteligência artificial, os pesquisadores apontam as tendências para os próximos dias das curvas de infecções, óbitos e recuperações. O “pulo do gato” da pesquisa é a variação dos parâmetros no modelo epidemiológico de acordo com os dados de cada região. A inteligência artificial permite descobrir quais parâmetros modelam melhor cada localidade. Parâmetros como a taxa de infecção, por exemplo, diferem das cidades que vivem alta de casos em relação aos locais que controlaram a pandemia.

“A inteligência artificial busca uma análise dos padrões a partir dos próprios dados que alimentam a ferramenta”, explica Wallace Casaca, professor da UNESP e responsável pela coleta de dados na pesquisa.

O professor Cássio Oishi, que leciona na Unesp em Presidente Prudente, é o responsável pelas projeções da plataforma SP Covid Info Tracker Foto: CeMEAI

Projeções curtas As previsões, no entanto, devem ser assertivas. Quando delimitam um período de sete a dez dias para a predição, os estudiosos garantem um índice de 5% de erros, número baixo de acordo com a literatura científica. Previsões mais longas significam queda no porcentual de acertos. “Estamos medindo aceleração ou desaceleração do número de casos. Com dados atuais e projeções curtas, é possível ser mais assertivo nos resultados”, explica Cássio Oishi, professor da Unesp em Presidente Prudente e responsável pelas projeções da plataforma. O estudo começou em março com a coleta de dados, quando o professor Wallace começou a reunir os boletins epidemiológicos divulgados pelas prefeituras. O propósito inicial era colocar ferramentas matemáticas e estatísticas a serviço da população de 60 cidades, promovendo a inclusão digital. Com a evolução da doença, foi necessário incluir novas cidades, em especial aquelas com o aumento significativo do número de casos e de óbitos.

Dessa forma, foram adicionadas mais 31 ao longo de abril e junho. No dia 10 de junho, a plataforma passou a disponibilizar a página de previsão. Os objetivos de oferecer informações sobre o comportamento da pandemia, com detalhamento local, para a mídia, a comunidade científica, entidades governamentais e a sociedade em geral está sendo alcançado: a ferramenta já ultrapassou a marca de 60 mil visualizações.

No Estado de São Paulo, o monitoramento oficial do avanço do vírus é feito pela Secretaria de Saúde com apoio do Centro de Contingência da Covid-19. Foto: AP Photo/Eraldo Peres

O estudo é desenvolvido pelo Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), órgão que reúne professores de várias universidades e recebe apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Isso significa a união de esforços e inteligência das universidades para combater a covid-19. Localizado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP em São Carlos, o centro desenvolve pesquisas para solucionar problemas da sociedade em geral. Propor inovações para a Petrobras na extração de petróleo nos reservatórios do pré-sal, melhorar a gestão dos resíduos coletados pelos municípios usando a estatística e combater o desmatamento com ciência de dados são algumas áreas de atuação do centro. José Alberto Cuminato, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação e diretor do centro de ciências, afirma que o modelo de cooperação entre cientistas de instituições diferentes é amplamente utilizado no exterior. O especialista revela que o centro desenvolve dez pesquisas diferentes relacionadas à covid-19. Uma delas analisa a eficiência das medidas de saúde pública como isolamento social, a quarentena e uso de máscaras na mitigação da transmissão do vírus no País. Outra usa os dados do hemograma para ajudar os hospitais a agilizar o processo de diagnóstico e otimizar recursos a partir de técnicas de inteligência artificial.

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Abaixo das projeções No Estado de São Paulo, o monitoramento oficial do avanço do vírus é feito pela Secretaria de Saúde com apoio do Centro de Contingência da Covid-19. De acordo com o governo estadual, as estatísticas da doença estão abaixo das projeções de casos e óbitos calculadas para até 31 de agosto. A secretaria informa que a margem do número de casos é de 835 mil a 970 mil até o final do mês. Nesta quarta-feira, 26, o estado registrou 776.135 casos confirmados do novo coronavírus. Ainda de acordo com o órgão, o número atual de óbitos também está abaixo da previsão, que é de 30 mil a 36 mil até o final do mês. Até esta quarta, foram registradas 29.194 mortes. As projeções da ferramenta desenvolvida pelos professores da USP e da Unesp apontam dados semelhantes às predições do governo paulista. Com base nos dados das regiões analisadas na plataforma, que hoje equivalem a 92% dos dados coletados do estado, o modelo estima por volta de 28 mil óbitos e 730 mil casos confirmados até o final do mês. “Se considerarmos todas as cidades do Estado, usando os dados do governo de São Paulo como complemento, nossa estimativa aponta para um total de 30 mil óbitos e 790 mil casos confirmados para todo o estado”, explica Cássio Oishi, professor da Unesp em Presidente Prudente e responsável pelas projeções da plataforma. Para a cidade de São Paulo, a projeção da ferramenta SP Covid Info Tracker é de 293 mil casos confirmados e 11,9 mil óbitos até o final do mês de agosto. 

Epicentro da doença no País, São Paulo concentra o maior número total de casos e óbitos por covid-19. Foto: Sebastiao Moreira/ EFE
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