‘FT’ traz reportagem sobre subnotificação de casos de coronavírus no Brasil

Texto relata abertura de covas no cemitério da Vila Formosa e temor dos coveiros de que haja muito mais vítimas de covid-19 que os registros oficiais

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Por Redação
Atualização:

O jornal inglês Financial Times destacou nesta segunda-feira, 20, o receio de coveiros de São Paulo de que a taxa de mortes no Brasil em decorrência da infecção pelo novo coronavírus seja mais alta que a registrada oficialmente. 

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A reportagem conversou com trabalhadores do cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo – o maior do País –, que chamou atenção no fim de semana pelo grande número de novas covas sendo abertas à espera de vítimas da covid-19.

Enquanto enterravam um homem de 96 anos, que morreu após ser hospitalizado com pneumonia e sem ter recebido os resultados do teste de coronavírus, os coveiros comentaram que o cenário é comum. “Muitos como ele chegam aqui antes de receber os resultados dos testes”, disse um deles ao jornal. “Estamos enterrando muitos.”

Cemitério de Vila Formosa abre 56 covas diariamente. Foto: Fernando Bizerra Jr / EFE

O FT cita também reportagem do Estado, de 13 de abril, que mostrou que as mortes registradas como insuficiência respiratória e pneumonia no Brasil foram 2.239a mais em março de 2020, em comparação com março de 2019. E as estimativas do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois) – grupo que reúne pesquisadores da USP, PUC, UFRJ e Fiocruz, dentre outras instituições – que apontam para a existência de 12 vezes mais casos de coronavírus que os registrados oficialmente. 

Os números divulgados neste domingo pelo Ministério da Saúde eram de 38.654 casos, com 2.462 mortes. Por essa estimativa, já teríamos mais de 450 mil casos, ressalta o jornal inglês.

A reportagem também critica Bolsonaro. “O presidente Jair Bolsonaro é um dos poucos líderes mundiais minimizando os riscos do vírus. Ele alega que a pandemia criou um ‘clima de terror’ e criticou governadores estaduais por imporem bloqueios parciais. Na quinta-feira, demitiu seu popular ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, médico, que divergiu publicamente de seu chefe ao defender um maior distanciamento social, e que admitiu que havia mais casos do que os confirmados. ‘Estamos vendo apenas a ponta do iceberg’, disse ele no mês passado.”

De acordo com o FT, situação semelhante ocorre no México, onde até domingo havia 8.261 casos confirmados e 686 mortes. Lá, segundo o jornal, Hugo López-Gatell, subsecretário de saúde do coronavírus do país, admitiu que o nível real de infecção é pelo menos oito vezes maior.

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