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Gel de antirretroviral pode reduzir contaminação por HIV em 54%, diz teste

Experimento na África do Sul mostra que gel de aplicação vaginal pode proteger mulheres

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Por Redação
Atualização:

Um gel de aplicação vaginal contendo uma concentração de 1% do remédio antirretroviral tenofovir pode reduzir o risco de uma mulher contrair o vírus causador da aids, o HIV, em até 54%, de acordo com estudo que será publicado na edição desta semana da revista Science e que foi divulgado nesta tarde.

 

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Realizado com 889 mulheres sul-africanas sexualmente ativas de idade entre 18 e 40 anos, o gel mostrou uma eficácia média de 39% em todo o grupo estudado, chegando a 54% entre as mulheres que seguiram as orientações de aplicação ao pé da letra. Num benefício colateral inesperado, o gel também reduziu em mais de 50% a incidência de herpes.

 

Para a realização do experimento, o conjunto de mulheres foi dividido em dois grupos, sendo que 445 receberam o gel de tenofovir e 444, um placebo - um gel idêntico ao medicamento, mas sem ingrediente ativo. Nem as mulheres, nem os pesquisadores, sabiam quem estaria recebendo o quê. A instrução era que uma dose fosse aplicada na vagina menos de12 horas antes da relação sexual e outra, no máximo 12 horas depois.

 

As voluntárias foram acompanhadas por 30 meses, período em que receberam visitas mensais, quando eram testadas para o vírus da aids e orientadas sobre o uso de preservativo e a prevenção de outras doenças sexualmente transmissíveis. Ao final do período, 98 mulheres haviam se tornado HIV positivas: trinta e oito do grupo que havia usado o gel com antirretroviral e 60 das que haviam usado o placebo.

 

Os principais autores do estudo, o casal Quarraisha Abdool Karim e Salim S. Abdool Karim, advertem que mais estudos serão necessários para confirmar os resultados obtidos. O gel, se tiver a eficácia confirmada, não deve chegar ao mercado antes de dois anos. Segundo cientistas, é preciso confirmar o resultado deste estudo, expandir suas conclusões e entender por que a proteção oferecida não foi maior que a verificada.

 

Os pesquisadores reconhecem que poderão enfrentar críticas quanto à ética de reproduzir o experimento com placebo, já que isso envolverá negar a parte das voluntárias - todas mulheres em  risco de contrair aids - o acesso a um produto que poderia ser capaz de protegê-las, mas ponderam que não é incomum que um resultado positivo inicial acabe desmentido quando se tenta reproduzi-lo.

 

"Espero que esse não seja o caso aqui", disse Salim Abdool Karim, em entrevista coletiva. 

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"Eu gostaria de ver estudos confirmatórios com placebo, gostaria de ver que estes resultados são replicáveis", disse ele. "O desafio é ver se a necessidade de replicação supera a necessidade real de deixar sito disponível para as mulheres que estão sendo infectadas. São desafios em que nós teremos de pensar, bem como o comitê de ética".

 

De acordo com os autores, todas as participantes do experimento foram instruídas sobre a natureza do estudo e o que significa um controle com placebo. O artigo científico que apresenta os resultados destaca a importância de dar às mulheres, que podem se ver "incapazes de negociar o uso de preservativos ou a monogamia mútua", um meio de controlar o contágio da aids.

 

Estatisticamente, a eficácia do gel parece cair com o tempo: o risco de infecção reduziu-se em 50% nos primeiros 12 meses do estudo, mas voltou a subir depois. Os cientistas atribuem isso a um relaxamento na aderência das voluntárias. "Nós dizíamos repetidamente a essas mulheres que não sabíamos se o gel iria funcionar, e nem se ele seria seguro", lembrou Salim Abdool Karim.

 

Em termos de segurança, o gel não causou efeitos negativos. Apenas casos de diarreia leve pareceram se tornar mais comuns entre as mulheres que usaram o produto com o ingrediente ativo.

 

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Das participantes do estudo, 68% contaram aos parceiros do sexo masculino o que estavam fazendo, de acordo com questionário aplicado pelos pesquisadores. Dos homens informados, 6% não gostaram da ideia, mas nenhuma mulher abandonou o experiemento por causa disso.

 

Este é o primeiro gel antimicrobiano a se mostrar eficaz contra o HIV. Fórmulas diferentes já haviam sido testadas anteriormente, sem sucesso. Os autores do trabalho atribuem o resultado ao fato de este ser o primeiro gel baseado num antirretroviral, o mesmo tipo de droga que compõe  os "coquetéis" usados para controlar o vírus em pessoas infectadas.

 

Uma simulação matemática citada pelos autores do estudo indica que, se os níveis de eficácia do gel de tenofovir se confirmarem, apenas na África do Sul seu uso poderia salvar pelo menos 820.000 vidas ao longo de 20 anos. O estudo foi realizado numa parceira entre África do Sul e Estados Unidos, envolvendo pesquisadores dos dois países.

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(com Associated Press e Reuters)

 

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