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Governo já negocia importação de vacina contra a febre amarela

Ministro admitiu que situação é diferente da apresentada há 2 meses, quando casos estavam restritos a Minas e Espírito Santo

Por Ligia Formenti
Atualização:
Pasta iniciou tratativas com produtores internacionais sobre preços, doses disponíveis e cronograma para entrega de lotes do imunizante Foto: Wilton Junior/Estadão

BRASÍLIA - O Ministério da Saúde já está negociando a importação de vacina contra febre amarela. Diante da epidemia registrada no País e do pedido de reforço de doses feito por São Paulo e Rio, a pasta iniciou tratativas com produtores internacionais sobre preços, doses disponíveis e cronograma para entrega de lotes do imunizante. "Não há uma compra fechada. Neste momento estamos fazendo pesquisas", disse o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Ele admitiu, no entanto, que o cenário atual é bem distinto do apresentado há dois meses, quando os casos suspeitos da doença estavam restritos a Minas e Espírito Santo. Há menos de um mês, diante da comprovação de casos em humanos e de mortes em macacos provocados por febre amarela, o Rio decidiu estender a vacina para toda a população. A intenção é vacinar até o fim do ano 15 milhões de pessoas. Além do Rio, a demanda em São Paulo aumentou de forma expressiva, com a identificação de mortes de macacos em áreas próximas de Campinas. Semana passada, o Estado solicitou ao Ministério da Saúde o envio de mais 3 milhões de doses.

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O reforço nos estoques começou há duas semanas, quando o governo solicitou ao Grupo de Coordenação Internacional (GCI), organismo que reúne a Cruz Vermelha, Opas e Unicef e Médicos sem Fronteiras, 3,5 milhões de doses do imunizante. Houve ainda a decisão de se suspender a exportação de vacinas contra febre amarela. O Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz, a produtora, no entanto, divergem sobre a data em que a decisão foi tomada.

Questionado, o Ministério da Saúde afirmou que o adiamento foi decidido há duas semanas e envolve a entrega de 3 milhões de doses. A Fundação Oswaldo Cruz, no entanto, garantiu que a interrupção foi decidida já no ano passado, quando os primeiros casos de macacos mortos pela doença começaram a ser confirmados. Ainda de acordo com a Fiocruz, o compromisso era de entregar 14 milhões de doses. A fundação afirmou que a expectativa é de que o fornecimento seja retomado em meados do ano "caso a situação se normalize."

O socorro do Grupo de Coordenação Internacional, no entanto, vai representar um custo a mais para o governo brasileiro. A vacina providenciada será vendida ao País, não doada. O preço padrão é de US$ 1,3 dólar por dose. Se esse valor for mantido, 40% a mais do preço pago pela vacina brasileira, R$ 3,03 (preços do fim do ano).

Além das negociações para importação, Barros disse estar em estudo a reativação de uma fábrica da Fiocruz exclusivamente para produção da vacina. "Ela está desativada. A retomada seria para atender a necessidade atual", disse o ministro. Para isso, no entanto, é preciso que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) verifique se há condições de produção no local.

"Não posso estipular prazos para que a produção comece porque não depende apenas do Ministério da Saúde", disse Barros. De acordo com ele, com a reativação, a produção de vacinas de Biomanguinhos poderia chegar a 50 milhões de doses por mês. 

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O Brasil é o maior produtor da vacina. A Biomanguinhos, da Fiocruz, enviou do fim de novembro até o fim de fevereiro 22.393.000 doses para o Ministério da Saúde. "O que posso dizer é que não faltará vacina para quem precisa", disse o ministro Ricardo Barros. "Agora é importante que pessoas que não estão em áreas consideradas de risco não procurem o imunizante neste momento", completou.

O ministro afirmou que, além do aumento da produção da Fiocruz e da eventual importação de vacinas, o Ministério da Saúde poderá, em último caso, fracionar o imunizante, como já foi feito em uma epidemia na África. "Mas vamos evitar ao máximo esse recurso". Isso porque a vacina fracionada (uma dose menor do que a tradicionalmente aplicada) tem eficácia de um ano. As pessoas que vivem em áreas de risco, por isso, teriam de, passado um ano, serem novamente vacinadas.