Governo passa a adotar dose única da vacina contra febre amarela

Medida, que passa a valer já neste mês, segue orientação da Organização Mundial da Saúde

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Por Fabiana Cambricoli
Atualização:
Vacina contra febre amarela pode ser fracionada para atender alta demanda Foto: Emerson Ferraz/Divulgação

Em meio ao pior surto de febre amarela registrado no País, o Ministério da Saúde anunciou ontem que passará a adotar dose única da vacina contra a doença. Até agora, o esquema seguido era de duas doses, com intervalo de dez anos entre a primeira e a segunda. A Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, já recomenda dose única desde 2014.

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Segundo o ministério, a mudança se justifica pelo aumento do número de estudos que comprovam que uma só dose é capaz de conferir imunidade por toda a vida. De acordo com o órgão federal, quando a OMS recomendou imunização única, há três anos, o Brasil julgou que os estudos ainda não eram suficientes para que a orientação internacional fosse adotada. Pesou também na decisão atual do ministério de mudar o esquema de imunização a demanda crescente por vacina registrada no País com o recente surto.

Dados apresentados ontem mostram que o Brasil já registra 586 casos confirmados de febre amarela silvestre e 190 óbitos causados pela doença. Outros 450 casos e 49 mortes estão em investigação. Só neste ano, o governo federal já distribuiu 21,6 milhões de doses extras do imunizante, além das 4,1 milhões doses de rotina.

Ainda na tentativa de controlar o surto da doença, o ministério confirmou ontem que já se organiza para a possibilidade de fracionar a vacina, caso seja necessário imunizar a população de grandes centros urbanos. O plano foi antecipado pelo Estado na semana passada.

Em caso de fracionamento, uma única dose da vacina seria dividida em cinco. A eficácia da dose menor, afirma o ministério, é a mesma, mas o tempo de proteção cai para apenas um ano. “É uma medida de prevenção. Achamos que o Brasil deve estar preparado caso haja necessidade”, disse o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Como parte do plano de contingência montado para o eventual fracionamento, o ministério está em processo de compra de 3,5 milhões de seringas especiais para a aplicação da dose fracionada e vai oferecer treinamento para equipes de saúde de São Paulo, Rio e Bahia. Áreas com alta densidade populacional dos três Estados, como as capitais (São Paulo, Rio e Salvador), seriam os primeiros locais a receberem doses fracionadas, caso novos casos da doença sejam confirmados próximos de grandes centros urbanos.

“Temos obrigação técnica de deixar essa possibilidade pronta. Se não usarmos as seringas, vamos distribuir para os Estados utilizarem para aplicar insulina”, justificou o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Adeilson Cavalcante.

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O ministério ressaltou que, mesmo em locais onde eventualmente seja adotada a vacinação fracionada, crianças menores de 5 anos de idade, gestantes, imunodeficientes e viajantes internacionais seguirão recebendo a dose integral.

Avaliação. Segundo Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), não há risco de menor proteção com a aplicação de uma dose em vez de duas. “A adoção da dose única é segura. Há um embasamento internacional para essa conduta”, diz.

Quanto ao fracionamento da vacina, a especialista afirma que a medida é adequada, contanto que seja feita de forma temporária, apenas para ajudar a conter o surto. “Como ela confere proteção por menos tempo, não teria sentido ter a dose fracionada como estratégia de rotina. Mas se tivermos um surto em uma região metropolitana, temos de nos preparar para lançar mão dessa estratégia.”

PERGUNTAS E RESPOSTAS Fracionar reduz proteção a 1 ano

1. A adoção de dose única diminui a proteção?

Não. Segundo a OMS e o Ministério da Saúde, estudos mostram que uma só aplicação é capaz de dar imunidade por toda a vida. O Brasil era o único país a adotar ainda o esquema vacinal em duas doses.

2. Haverá fracionamento da vacina no Brasil?

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Não há confirmação se a medida será necessária, mas o ministério se prepara para a possibilidade, caso sejam confirmados casos da doença perto de grandes centros urbanos. 

3. A vacina fracionada garante a mesma proteção da dose integral?

Em termos de eficácia, sim, mas o tempo de proteção é reduzido para apenas um ano. Com isso, quem eventualmente tomar a dose fracionada teria de ser novamente imunizado no ano seguinte.

4. Quem tem maior risco de evento adverso relacionado à vacina da febre amarela?

Crianças menores de 6 meses, idosos, gestantes, imunodeprimidos, mulheres que estão amamentando e pessoas com alergia grave à proteína do ovo. Foram registrados 192 eventos adversos graves da vacina, o equivalente a apenas 0,001% do total de doses aplicadas. Estão em investigação 19 óbitos. 

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