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Hospital das Clínicas vai investigar esquema de ‘fura-fila’

Reportagem do ‘Diário de S. Paulo’ denunciou compra de vagas para consultas e cirurgias; pacientes demonstraram indignação com prática

Por Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - Um esquema para furar fila em exames, consultas e cirurgias mediante pagamento de R$ 380 estaria funcionando no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), maior complexo hospitalar da América Latina. O hospital informou que vai abrir uma sindicância e que funcionários serão exonerados se for confirmada a participação deles.

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O pagamento de propina para ter o atendimento na unidade foi divulgado nesta quarta-feira, 8, pelo jornal Diário de S. Paulo, cuja reportagem se passou por paciente e, em contato com um auxiliar de serviços gerais, conseguiu a matrícula de paciente do hospital, furou a fila do Sistema Único de Saúde (SUS) e foi atendida por um neurocirurgião. Segundo o jornal, o grupo que participa da ação é formado por um funcionário da manutenção, auxiliares administrativos e ao menos um médico.

O funcionário que aparece na reportagem seria o responsável por conseguir os pacientes e receber o pagamento deles. Ele também conduzia as pessoas que pagavam pelo atendimento até a porta do consultório. O neurocirurgião chegou a citar o nome do auxiliar, pedindo para a repórter entrar em contato com ele caso precisasse de nova consulta.

Corregedoria-Geral da Administração fez oitivasno hospital Foto: EDUARDO CARMIM/BRAZIL PHOTO PRESS/

Diligências. Com a divulgação do caso, a Corregedoria-Geral da Administração (CGA), órgão ligado à Secretaria de Governo do Estado de São Paulo, realizou diligências e oitivas no hospital entre as 9 e as 19 horas desta quarta. Nesta quinta-feira, 9, a CGA vai fazer o rastreamento do IP dos computadores do hospital. O órgão informou que se colocou à disposição do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, para ajudar em investigações sobre o caso.

Em nota, o Hospital das Clínicas informou que uma sindicância será aberta para apurar os fatos. “Comprovada a participação de funcionários, eles serão exonerados. O funcionário citado na reportagem será afastado preventivamente.” Disse ainda que, se for confirmada a participação de médicos, encaminhará denúncia para o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

O Cremesp informou que também abriu uma sindicância para apurar os fatos.

Nesta quarta, o clima era de decepção e indignação na porta no Hospital das Clínicas. “Eu acho que é um absurdo, uma falta de respeito com a população. Um hospital tão bom não pode ficar dando valor só para quem tem dinheiro. O direito é dos pobres, das pessoas que precisam de atendimento e não podem pagar”, diz a doméstica Maria José Silva, de 55 anos, que tinha ido ao endocrinologista. O auxiliar de produção Gerson Felippe, de 44 anos, acompanhava a sogra que foi fazer uma endoscopia e ficou surpreso com o caso. “Eu vi a notícia, mas não imaginava que tinha sido no Hospital das Clínicas, que é uma referência para todos”, diz.

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Moradora de Peruíbe, na Baixada Santista, a secretária Priscila Eugênia Bezerril, de 30 anos, conta que esperou por três meses por uma consulta com um oftalmologista para o filho Breno, de 5 anos. A existência de um esquema que fura as filas no hospital a deixou preocupada. “Quem faz isso pode estar tirando a vaga de uma pessoa em estado grave. Não é o caso do meu filho, que tem estrabismo.”

O professor de educação física Washington Luiz Silva, de 25 anos, tem insuficiência renal e, além de tomar medicamentos, passa por consultas com reumatologista na unidade. Ele conta que as consultas não costumam demorar. Mesmo assim, ficou indignado. “O certo é cada um esperar a sua vez, porque tem gente que sai cedo de casa e vem de longe para conseguir ser atendido aqui. Isso não é certo.”

Silva diz que nunca ouviu comentários sobre o esquema nem recebeu ofertas para conseguir uma posição melhor na fila. “Isso acontece embaixo dos panos”, afirmou a mãe do paciente, a dona de casa Rita Maria Silva, de 60 anos.

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