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Hospital e ONG abrem banco de perucas

Pacientes com câncer do Santa Marcelina podem escolher entre cem modelos; ação ajuda na autoestima e favorece cura, diz diretora

Por Paula Felix
Atualização:
Foto: Sergio Castro/ Estadão Foto: Foto: Sérgio Castro/ Estadão

SÃO PAULO - Julia, de 10 anos, entra na sala cheia de prateleiras com diferentes perucas. Após circular o olhar pelo local, aponta três que pretende provar. Até brinca com um modelo com dreads, mas logo elege a peça favorita que vai acompanhá-la no dia a dia. E, assim, torna-se mais uma paciente com câncer a ser beneficiada pelo recém-inaugurado banco de perucas do Hospital Santa Marcelina, em Itaquera, na zona leste da capital.

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Aberto no último dia 4 em parceria com a ONG Cabelegria, responsável pelas perucas, o projeto já doou novas madeixas para 96 pessoas e tem um estoque com cem modelos para garantir variedade para as pacientes. “Nós temos o maior banco de perucas do Brasil. Já fazemos doações há três anos, mas sentíamos falta de um espaço para que o paciente pudesse escolher sem precisar se deslocar, porque o banco fica ao lado da sala de quimioterapia”, explica Mariana Robrahn, fundadora da ONG. Até agora, não foi feita nenhuma doação para homens.

Há um ano, Julia Cristina da Silva Batista Guaragni foi diagnosticada com câncer no fêmur direito. “Ela caiu e, depois de dez dias, a levei no ortopedista. Chorei por três dias e só. Eu tinha de ser o suporte dela”, diz a mãe, a dona de casa Claudia Guaragni, de 35 anos. Em janeiro, a menina foi submetida a uma cirurgia e teve a perna amputada. “Ela aceitou, dizia que queria eliminar o problema.”

Com o tratamento, veio a perda do cabelo e Julia pediu uma peruca. O resultado agradou. “É muito bom, porque aumenta a autoestima. (A peruca) combinou comigo”, diz a garota.

A família da vendedora Rosaria de Menezes Silva, de 67 anos, já pensava em comprar um modelo e acabou desistindo ao saber do banco. “Uma boa peruca é cara”, diz a artesã Deborah Silva de Lana, de 47 anos, filha da paciente. “Fiquei mais feliz. Eu me apaixonei pela primeira que vi. Não vou mais querer usar lenço nem touca. Ela tem o mesmo tom e comprimento do meu cabelo”, elogia Rosaria, que foi diagnosticada com câncer de mediastino.

Dentro da sala, o ritual é sempre o mesmo. As pacientes podem provar os modelos e escolher um. Antes de sair, aprendem a usar. “Temos um sistema de trocas e fazemos a manutenção”, completa Mariana.

Transformação. Em tratamento contra câncer no pulmão e no crânio há dois anos, a dona de casa Giselma Aparecida dos Santos Silva, de 50 anos, conheceu o banco na semana passada e, ao sair com a peruca, já teve ideias para complementar o visual. “Vou colocar uma faixa e posso fazer mechas vermelhas.” A mudança foi aprovada pelo marido, o aposentado Geraldo Magela, de 65 anos. “Gostei. Fiquei muito emocionado.”

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O banco é voltado para pacientes do hospital e funciona de terça a quinta, das 10h às 15h. Doações de cabelos podem ser feitas no hospital.

“Isso trouxe uma atmosfera mais leve para o tratamento, visto que a estética é importante. A autoestima favorece a cura. Vemos uma cadeia de solidariedade e de amor das pessoas que doam e confeccionam até chegar ao paciente”, diz a diretora-presidente do hospital, irmã Rosane Ghedin.

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