Infecção de macaco em zoológico pode ter começado com homem

Após exame, hipótese é de que mosquito picou humano contaminado antes de transmitir vírus a bugio no local

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Por Paula Felix
Atualização:

Uma nova hipótese para a infecção do macaco bugio achado morto na área do Zoológico de São Paulo, na zona sul, em janeiro, foi apresentada nesta segunda-feira, 5. Segundo um representante do Instituto Adolfo Lutz, uma pessoa com o vírus e sem sintomas que visitou o local teria sido picada por um mosquito, que infectou o macaco. A Secretaria Estadual da Saúde discorda da hipótese.

Mosquito. 'Haemagogus' transmite o vírus da febre. Foto: Genilton Vieira/IOC/FIOCRUZ

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“A análise genética mostrou que o vírus que circulou no zoológico é mais próximo do que foi encontrado em Piracaia (no interior paulista) do que o que circulava em Mairiporã (na Grande São Paulo). Acreditamos que um ser humano infectado sem sintomas foi picado e iniciou a transmissão. Por isso, ela (a transmissão) foi localizada”, disse Renato Souza, do Núcleo de Doenças de Transmissão Vetorial do instituto.

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Souza disse que o resultado da análise ficou pronto na semana passada. Até então, a hipótese mais trabalhada, e que chegou a ser aventada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), é de que o macaco teria sido abandonado no local por traficantes de animais após ter ficado doente. “Não é impossível, mas é pouco provável”, disse Souza.

Coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde, o infectologista Marcos Boulos discorda da hipótese de transmissão de um humano para o macaco. “O mosquito só pica o humano quando não há macaco. O ser humano é picado acidentalmente. O zoológico é um lugar de desova de animais doentes. Uma possibilidade concreta é que isso tenha acontecido.”

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Rejane de Paula, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica, órgão ligado à secretaria, segue a mesma linha. “O exame mostra que o macaco veio da região de Piracaia e o manejo humano tem a ver com o tráfico. Ele foi transportado por uma pessoa e deixado lá.”

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Boulos também já disse, em outras ocasiões, ser pouco provável que um humano infectado inicie um surto urbano da febre porque o Aedes aegypti (principal transmissor da doença na cidade) parece não ter a mesma competência que antes na propagação do vírus. O último registro de febre amarela urbana no País é de 1942. Em área de mata, os mosquitos Haemagogus e Sabethes são os principais vetores. 

Febre amarela

Um teste para detectar a infecção pela febre amarela em 20 minutos deve começar a ser oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 30 dias, segundo o Ministério da Saúde. Hoje, o teste do Instituto Adolfo Lutz, do governo do Estado, demora até 10 dias para ficar pronto. Para casos em humanos, o instituto entrega os exames entre três e cinco dias.

Inicialmente, 100 mil kits do teste rápido, que usa apenas uma gota de sangue, serão adquiridos pelo ministério e distribuídos a Estados com registros de disseminação do vírus. Os kits são produzido pela Bahiafarma, laboratório ligado à Secretaria de Saúde da Bahia.

“Há vírus diferentes com os mesmos sintomas. Com o teste rápido, o médico já poderá tomar decisões”, disse Osnei Okumoto, coordenador-geral de laboratórios de Saúde Pública do ministério.

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