Ingestão de álcool na gravidez eleva risco de depressão, diz estudo da USP

Pesquisa revela ligação entre consumo de bebida e sofrimento psiquiátrico na gestação e no pós-parto

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

SÃO PAULO - O consumo de álcool na gravidez está relacionado a sofrimento psiquiátrico durante e após a gestação. Segundo o estudo "Uso de álcool na gestação e sua relação com sintomas depressivos no pós-parto", da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (FMRP), há uma associação entre a ingestão de bebidas alcoólicas e o aumento de sintomas depressivos na gravidez e no pós-parto. A psicóloga Poliana Patrício Aliane, autora do estudo, afirma que não há uma única causa para a depressão em gestantes. “São vários fatores de risco que contribuem para o problema”, descreve. “Pré-disposição genética, insatisfação na vida pessoal ou na relação conjugal são alguns desses fatores, e o consumo de álcool vem se juntar a eles”, explica. A pesquisa também indica uma maior prevalência de depressão pós-parto entre as mulheres que tiveram ao menos um "binge" alcoólico durante a gravidez. O binge é caracterizado pela ingestão de cinco ou mais doses alcoólicas em uma única ocasião, sendo que uma dose contém 12 gramas de álcool puro. “Uma lata de cerveja, por exemplo, contém uma dose de álcool”, descreve Poliana. O estudo trabalhou na análise de um grupo de 177 grávidas. A média de consumo encontrada por gestante foi de 163,7 gramas de álcool ou quase 14 doses ao longo dos nove meses de gestação. “Essa é uma quantia elevada se levarmos em conta que o recomendado é que não se consuma nada”, explica Poliana, que ressalta: “Qualquer consumo já impõe risco à saúde do bebê. Não existe um valor mínimo de segurança”. Outro novo fator encontrado foi um predomínio de sintomas depressivos ao longo da gestação, e não no pós-parto. Do total de gestantes, aproximadamente 20% apresentaram sintomas de depressão durante a gravidez, ante 14,7% que se mostraram deprimidas no pós-parto. Quadro depressivo Os sintomas da depressão em qualquer pessoa, seja gestante ou não, podem ser divididos em dois grupos. Os sintomas do grupo principal são um sentimento constante de tristeza e desânimo e a chamada anedonia, caracterizada pela perda de interesse e prazer pelo que antes proporcionava tais sensações. Alterações de apetite e de sono, cansaço excessivo, falta de energia e dificuldade de concentração fazem parte do grupo de sintomas secundários. Para a depressão ser diagnosticada, o paciente deve apresentar ao menos um sintoma do grupo principal e três ou quatro do secundário. Porém, no caso da depressão pós-parto, determinadas características particulares podem estar presentes. “Algumas mães passam a ter pensamentos obsessivos e sentimentos ambivalentes acerca do bebê e sentem opressão pela responsabilidade de cuidar dos filhos”, explica Poliana. O quadro depressivo pode ser superado com tratamento psiquiátrico e psicológico, no qual as possíveis causas envolvidas são exploradas para serem tratadas ou amenizadas. De acordo com o grau da doença, remédios também podem ser prescritos por um psiquiatra. Para diminuir o consumo Atualmente, Poliana trabalha no desenvolvimento de um protocolo de intervenções breves para reduzir o consumo de álcool na gestação. “As intervenções exigem alguma adaptação, porque o uso de álcool durante a gravidez traz mais consequências, como maior risco de aborto, de partos prematuros e para o próprio bebê”, explica. O protocolo ainda está fase de elaboração e é desenvolvido pelo Programa de Ações Integradas para Prevenção e Atenção ao Uso de Álcool e Drogas na Comunidade (PAI-PAD), da FMRP. Em sua tese de doutorado, Poliana pretende verificar a eficácia da intervenção breve na redução do consumo de álcool entre gestantes. O estudo foi orientado pelo professor Erikson Felipe Furtado, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP, também coordenador do PAI-PAD.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.