RIO - Administrador do maior banco de tecidos musculoesqueléticos do País, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro, ampliou a área de captação de doações. Até maio, a instituição só buscava material doado no Estado do Rio. A partir de uma experiência no Paraná, tornou-se capaz de recolher tecidos doados em qualquer outro Estado. Embora a estrutura esteja pronta, faltam doadores.
Em 2014, houve 27 doações; neste ano, até 15 de setembro, mesmo com o aumento da abrangência territorial, foram só 18 doações - duas delas fora do Rio. As duas doações realizadas no Paraná renderam ao banco do Into 68 materiais para transplantes.
“Todo mundo já ouviu falar em doação de órgãos, mas a doação de tecidos é desconhecida. Por isso, o número de doadores é pequeno. O desconhecimento é a primeira dificuldade”, disse Rafael Prinz, médico-chefe do Banco de Tecidos Musculo-esqueléticos do Into.
“O transplante de órgãos ocorre quando há risco de morte para o paciente. Já o transplante de tecido ósseo não é questão de vida ou morte, mas de qualidade de vida. O receptor deixa de ter dores articulares ou outros problemas e consegue voltar a realizar atividades que havia abandonado”, acrescentou Prinz.
O banco capta, trata e distribui ossos, tendões e meniscos para serem usados em transplantes nas áreas de ortopedia e odontologia. Além de abastecer o próprio Into, o banco fornece material para cirurgias realizadas em outros 47 hospitais do País. Em 2014, o material fornecido pelo Into beneficiou 477 pacientes. Neste ano, até 31 de agosto, foram feitos 296 transplantes com material captado pelo instituto.
A segunda barreira para doação é o receio de que a retirada dos tecidos deixe o cadáver desfigurado. “As pessoas imaginam que o corpo ficará mutilado, mas não é assim. Após recolher o material, fazemos uma recomposição anatômica. Quem vê o corpo não percebe nenhuma diferença”, afirmou Prinz.
Logística. A principal dificuldade para buscar doações em hospitais distantes é o tempo: os tecidos precisam ser recolhidos até 12 horas após o coração do doador parar de funcionar. “Esse procedimento não depende só do Into. É preciso que a central de regulação daquele Estado (onde o doador está) nos avise a tempo, e então temos de organizar a logística, com ajuda da Central Nacional de Transplantes”, explicou Prinz. A partir daí, a equipe do Into viaja até o hospital, levando contêineres para acondicionar o material.
O desejo de doação deve ser manifestado em vida, por escrito ou aos familiares. Quando isso não é feito, o hospital consulta a família sobre a decisão.