Mamadeira eleva risco de obesidade

Usada após os 2 anos, mais para acalmar do que para nutrir, ela leva ao consumo excessivo de calorias

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Por Mariana Lenharo
Atualização:

O uso prolongado da mamadeira aumenta o risco de obesidade infantil, de acordo um estudo feito nos EUA e publicado ontem no Journal of Pediatrics, um dos principais periódicos científicos na área de pediatria. Isso ocorre, segundo os pesquisadores, porque o utensílio estimula o consumo de mais calorias na medida em que os pais tendem a oferecê-lo aos bebês como uma espécie de conforto - para conter choros e manhas, por exemplo - e se esquecem de computar o alimento contido ali na hora de preparar a dieta diária das crianças.

 

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O estudo, feito por pesquisadores da Ohio State University e da Temple University, analisou informações de 6.750 crianças, desde o nascimento até os 5,5 anos. Foi considerado uso prolongado da mamadeira quando, a partir dos dois anos de idade, a criança ainda tinha a mamadeira como principal forma de ingerir líquidos ou mantinha o costume de dormir com ela.

 

Do total, 22,3% dos bebês se enquadraram em um desses casos. Entre as que abandonaram a mamadeira antes dos dois anos, 16,1% foram consideradas obesas na idade de 5,5 anos. Já no grupo das que ainda mamavam, esse índice subiu para 22,9%. Segundo o estudo, uma única mamadeira pode suprir grande parcela da necessidade diária de calorias de uma criança. "Por exemplo, uma menina de 24 meses de peso médio (aproximadamente 12 kg) e altura média (aproximadamente 86cm) que é colocada para dormir com uma mamadeira de leite integral de 220 g receberia aproximadamente 12% de suas necessidades diárias de calorias (aproximadamente 1.300 calorias) daquela mamadeira", informa o artigo.

 

Especialistas brasileiros ouvidos pelo JT concordam com os resultados da pesquisa. Para o pediatra e nutrólogo Rubens Feferbaum, do Hospital Infantil Sabará, o uso abusivo da mamadeira é uma grande preocupação atual. "A mamadeira acaba sendo usada como um hábito de relaxamento, mas o que tem ali dentro é um líquido proteico com muitas calorias", afirma. Para ele, o ideal é que o bebê nem use o utensílio: assim que começar a tomar outros líquidos além do leite materno, a ingestão deve ser feita direto no copinho. No caso dos que já usam a mamadeira, ela deve ser banida a partir de um ano de idade.

 

A consultora de marketing Viviane Resende, 27 anos, tenta há tempos convencer seu filho Gabriel, de quatro anos, a deixar a mamadeira de lado. Ele toma tudo na mamadeira, exceto quando está na escola, onde não deixa que seus amigos saibam sobre o hábito. "Os pediatras sempre dão bronca. Já tentei esconder a mamadeira e dar tudo no copo, mas ele fica ‘deprimido’ e acabo cedendo", conta.

 

A nutricionista do Hospital São Luiz acredita que o risco de que a criança ingira muito mais calorias do que precisa é realmente aumentado pela mamadeira. "O problema é o conteúdo, que pode ter grande quantidade de açúcar e até alguns tipos de farinha para engrossar o leite. Ela pode ser substituída sem nenhum problema pelo leite no copo", garante.

 

A pediatra Lilian Zaboto, membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), aponta outro aspecto que pode associar a mamadeira à obesidade. "Quando o bebê mama mamadeira, ele perde a capacidade de regulação do apetite. Quando mama no peito, ele é quem ‘diz’ para a mãe o momento de parar, demonstra que está saciado. Na mamadeira, quem acaba regulando é quem oferece", explica.

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Cárie nos dentes e má formação da arcada dentária também são problemas importantes acarretados pelo uso prolongado da mamadeira, segundo os pediatras.

 

Contra o peso extra, amamentação e pais que comem bem

 

Segundo a pediatra Lilian Zaboto, especialista em obesidade infantil da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), é comprovado que a criança que não é amamentada tem mais risco de desenvolver obesidade infantil.

 

"O leite materno é uma proteção contra a obesidade, enquanto maus hábitos alimentares e sedentarismo estão contribuindo para o crescimento desse problema no País", afirma. Lilian explica que, do total de crianças obesas, apenas 3% delas têm alguma doença endócrina ou metabólica que possa justificar o aumento de peso. "Portanto, a grande maioria dos casos de obesidade infantil é devida ao desequilíbrio entre a ingestão de calorias e o gasto de energia."

 

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Para a nutricionista Alexandra Savani, do Hospital São Luiz, o crescimento do número de crianças obesas vem das mudanças no estilo de vida da população. "Por causa do cotidiano corrido, as famílias têm o hábito de comer muito fast-food. E os costumes das famílias são sempre absorvidos pelas crianças." Ela acrescenta que não adianta os pais tentarem oferecer uma alimentação saudável para os filhos se eles próprios não servirem de exemplo.

 

Outro hábito que favorece a obesidade, segundo o pediatra e nutrólogo Rubens Feferbaum, do Hospital Infantil Sabará, é os pais tentarem saciar a sede dos filhos sempre com leite e suco, em vez de água. "Forma-se um ciclo vicioso: o leite tem um monte de minerais, principalmente o sódio, que dá muita sede. Aí os pais dão mais leite ou suco", diz. Ele explica que a criança precisa ser hidratada com cerca de um litro diário de água mineral.

 

 

 

 

 

 

 

 

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