Marquinhos vence aos poucos suas limitações

Aos 5 anos, menino nascido com microcefalia corre e brinca no jardim; linguagem é desafio

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Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli
Atualização:

SÃO PAULO - Com olhos atentos, Marquinhos, de 5 anos, observa todo o ambiente. Os brinquedos não lhe agradam, prefere mesmo é jogar massa de modelar para o alto, correr pelo jardim ou ver o que a irmã mais velha faz ao celular. Aos 12 meses, porém, o menino não conseguia nem sustentar a própria cabeça. “Ele parecia um boneco, todo mole. A imagem que eu tinha é que meu filho ficaria o resto da vida em cima de uma cama”, conta a dona de casa Vanessa Silva de Araújo, de 33 anos, mãe do garoto.

Marcos Felipe Araújo de Lima, ou apenas Marquinhos, como é chamado pela família, nasceu com microcefalia, má-formação que hoje ganha notoriedade por sua relação com o zika vírus. Por ano, a má-formação atinge cerca de 40 bebês no Estado de São Paulo e tem diversas causas. Segundo Vanessa, o parto do garoto demorou a ser feito e a criança entrou em sofrimento fetal. O problema provocou lesões cerebrais graves no menino, que teve funções motoras e intelectuais comprometidas. 

Vanessa e Marquinhos. Apoio e estímulo da família Foto: Nilton Fukuda

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“Ele passou meses se alimentando por sonda gástrica porque não conseguia nem sugar o peito para mamar”, conta a mãe, que suspeita que o problema tenha ocorrido no momento do nascimento, mas nunca recebeu um diagnóstico preciso.

Com um ano de idade, foi encaminhado para tratamento na Apae de São Paulo, instituição que oferece atividades de estimulação para crianças com atraso no desenvolvimento. Segundo especialistas, embora crianças com microcefalia possam ficar com sequelas permanentes, o tratamento com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional pode trazer avanços na autonomia e qualidade de vida.

No caso de Marquinhos, cada pequena conquista é comemorada. Ao longo dos anos, o menino que não sustentava a cabeça aprendeu a engatinhar e a se equilibrar e, finalmente, passou a andar. Hoje, frequenta diariamente a escola e seu exercício preferido na Apae de São Paulo tem sido treinar a subida de escadas. “A chupeta do Marquinhos é a escada. Ele se concentra e vai, não tem medo”, conta Parizete Freire, psicóloga do serviço de estimulação e habilitação da entidade, que atende, em suas seis unidades na capital, 1.900 crianças com deficiência intelectual, das quais 19 têm microcefalia.

No campo da linguagem, o desafio do menino é maior. Marquinhos, por enquanto, apenas balbucia algumas palavras e sons, mas tem passado semanalmente por exercícios fonoaudiológicos para melhorar essa habilidade. A fono também ajuda a criança a aprender os movimentos de mastigação e deglutição, o que é fundamental para um bom prognóstico, uma vez que algumas crianças com deficiências do tipo podem sofrer infecções respiratórias por aspirar o alimento ao comer.

Causas. “A expectativa de vida e o desenvolvimento vão depender da causa da microcefalia. Quando é genética, a criança tem a microcefalia, mas pode ter uma vida próxima do normal. Já quando a causa é uma infecção na gravidez, como a por citomegalovírus, o comprometimento é mais severo. E esse parece ser o caso da infecção por zika”, explica Marcelo Masruha, presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil e professor da Unifesp.

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Para Vanessa, o maior sonho é ver o filho com mais autonomia a cada dia. “Quero que ele coma sozinho, saiba colocar a própria roupa, tome banho sem precisar de ajuda, quero ver meu filho independente. O que posso dizer para as mães é ter força e amar seus filhos, porque eles precisam muito de apoio.”

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