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Médico é investigado por negar soro a paciente picada por cobra

Segundo marido, advogada foi levada para a rede pública, mas não foi atendida porque tinha convênio particular

Por Rene Moreira
Atualização:

FRANCA - A Polícia Civil de Franca investiga a morte de uma advogada de 69 anos que foi picada por uma cobra e não teria recebido atendimento médico na rede pública por possuir plano de saúde particular. O caso foi registrado como omissão de socorro e o médico poderá responder por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). 

Segundo o juiz aposentado Nilton Messias de Almeida, sua mulher, a advogada Maria José Alves de Almeida, foi picada por uma jararaca na semana passada, quando seguia para uma capela no interior da fazenda da família, em Patrocínio Paulista (SP). 

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Almeida afirma que Maria José foi levada para a Santa Casa de Franca (SP), único local a contar com o soro antiofídico. Ele também levou a cobra morta, para os médicos soubessem de qual espécie de tratava.

De acordo com o juiz aposentado, o médico da Santa Casa informou que não poderia atender a paciente porque ela tinha convênio particular. Diante da insistência, o hospital teria orientado que ela fosse levada ao Hospital do Coração, outra unidade pública, para onde mandariam o soro.

Maria José foi parar no pronto-socorro, voltou para a Santa Casa e, por fim, foi internada em um hospital particular, relata Almeida. O soro demorou três horas para chegar e não surtiu efeito. A paciente morreu no fim de semana. 

A Santa Casa de Franca culpou a advogada, que, segundo a instituição, deveria ter procurado primeiro a Santa Casa de Patrocínio Paulista Foto: Divulgação

Investigação. O delegado Luís Carlos da Silva registrou o caso como omissão de socorro, para apurar a responsabilidade do hospital e de outras pessoas, entre elas o médico. Nesta quinta-feira, Silva começou a ouvir os envolvidos. "O que aconteceu foi algo absurdo. Como ela poderia procurar outro hospital se apenas a Santa Casa tem o soro?", questiona.

Em nota, a Santa Casa culpou Almeida, que, segundo a instituição, deveria ter procurado primeiro a Santa Casa de Patrocínio Paulista. Alegou, ainda, que em Franca ele foi "orientado a procurar o Hospital do Coração para que fosse ministrado o soro antiofídico em função de melhores condições operacionais naquele momento".

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Sindicância. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou que está instaurando uma sindicância para apurar o caso e que o procedimento pode demorar entre seis meses e dois anos para ser concluído. Ele vai correr em sigilo.

"O trâmite da sindicância envolve coleta de provas (prontuários, receitas, laudos, fiscalizações e outros documentos), manifestação escrita e, sempre que necessário, audiência com os envolvidos. Se, durante a fase de sindicância forem constatados indícios de infração ética, que consiste no descumprimento de algum artigo do Código de Ética Médica, passa-se à segunda fase: a instauração do processo ético-profissional. Sem indícios, a denúncia é arquivada."

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