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Mesmo com restrição, consumo de antibióticos cresce 4,8% em um ano

Aumento ocorreu após Anvisa passar a exigir a retenção da receita nas farmácias, numa tentativa de reduzir a automedicação e o risco de resistência bacteriana

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Por Redação
Atualização:

 O consumo de antibióticos no País cresceu 4,8% em um ano, saindo de 90,3 milhões para 94,7 milhões de unidades. O aumento ocorreu depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passar a exigir a retenção de receita para a venda desses remédios.

 

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Os dados foram levantados pela IMS Health, consultoria especializada no mercado farmacêutico, a pedido do Estado, e leva em consideração a venda para o consumidor final, em farmácias.

 

A norma proibindo a venda de antibiótico sem receita foi publicada pela Anvisa em outubro do ano passado e passou a valer um mês depois. O objetivo da medida era reduzir a automedicação e o risco de resistência bacteriana.

 

Para especialistas, o aumento nas vendas é resultado do crescimento natural do mercado farmacêutico e da melhora da economia: o brasileiro tem mais acesso a planos de saúde, vai mais ao médico e, consequentemente, compra mais remédio.

 

Para o professor Silvio Barberato Filho, do programa de pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Sorocaba (Uniso), a medida tem um impacto positivo em reduzir a automedicação, mas ainda não resolve de forma eficaz o problema da resistência bacteriana.

 

“Temos estudos que demonstram que ainda há excesso de prescrição de antibióticos e prescrições equivocadas. Se a pessoa toma o remédio sem necessidade, mesmo comprando com receita, ela vai contribuir para o aumento da resistência”, diz.

 

A mesma opinião é compartilhada pelo infectologista Carlos Roberto Veiga Kiffer, pesquisador do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica da Unifesp. “A má prescrição existe e é um dos fatores que nós médicos brigamos contra. O consumo precisa cair mais.”

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Para Barberato, outras medidas, como a orientação específica ao profissional que prescreve antibióticos, deveriam ser tomadas para evitar a resistência. “O fato de o paciente comprar com receita não quer dizer que a receita não está associada ao mau uso. O controle das vendas é apenas um dos elementos para controlar a resistência bacteriana. Essa norma não consegue coibir a prescrição equivocada”, diz.

 

Classes específicas. Tese de mestrado defendida ontem na Uniso, orientada pelo professor Barberato, mostrou que nos seis meses depois do início da norma houve queda na venda antibióticos indicados para o tratamento de doenças respiratórias.

 

A pesquisa levou em consideração uma base de dados de cerca de 2.800 farmácias. Segundo Barberato, houve redução na venda da tetraciclina (39%), azitromicina (33%), amoxicilina (32%) e lincomicina (26%). “Essa queda aconteceu provavelmente porque esses eram os medicamentos mais vendidos sem receita”, afirma.

 

Segundo Nelson Mussolini, vice-presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), o mercado farmacêutico cresceu 20% no último ano. A tese da indústria para explicar o aumento nas vendas é a de que nunca houve uma automedicação tão exagerada quanto era imaginado.

 

“Ninguém toma antibiótico se não precisa. E sempre há um pico de venda nos meses de inverno, por causa dos problemas respiratórios”, diz Mussolini.

 

Sistema. Apesar de ter publicado a norma há quase um ano, a Anvisa não tem um levantamento oficial sobre o consumo. Pela nova regra, as farmácias deveriam fazer a escrituração eletrônica das receitas retidas no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) a partir de abril deste ano, mas o prazo foi suspenso por tempo indeterminado.

 

Assim, a Anvisa depende dos dados manuais feitos por cada estabelecimento. Segundo a assessoria, o prazo foi suspenso porque o sistema atual não comportaria uma demanda tão grande de informações. A agência também atribui o aumento do consumo ao crescimento do mercado.

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