Ministro da Saúde reafirma elo entre zika e microcefalia

Para Marcelo Castro, não há dúvidas e, por isso, se deve buscar vacina, com apoio dos Estados Unidos

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Por Fabiana Cambricoli
Atualização:
Marcelo Castro afirmou que há elementos que permitem relacionar o zika ao surto de microcefalia que atinge o País Foto: ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO

SÃO PAULO - Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha sido cautelosa em estabelecer a relação entre o zika vírus e o surto de microcefalia, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse ontem que, para o governo, já há evidências suficientes dessa ligação. “Epidemiologicamente, e fazendo a conexão biologicamente, não há a menor dúvida de que é a zika que está causando a epidemia de microcefalia no Brasil”, afirmou ele no programa Roda Viva, da TV Cultura, após citar exames feitos em fetos e bebês do Nordeste que detectaram a presença do vírus. 

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Castro afirmou ainda que a prioridade do ministério é a busca da vacina contra o zika. “Estamos fazendo várias parcerias. Vou falar amanhã com a secretária de Saúde dos Estados Unidos. E o Pedro Vasconcelos (pesquisador do Instituto Evandro Chagas) está na Universidade do Texas, o maior centro de pesquisas em vacina contra arboviroses”, afirmou.

Dúvidas. Outros participantes do programa ponderaram que, embora as evidências sejam fortes, são necessárias mais pesquisas para a comprovação científica. “Uma associação observada não significa necessariamente causa e efeito. Precisamos de provas formais. Precisamos ver como o zika vírus migra para as células onde se forma o cérebro. Os cientistas precisam estudar a história natural da doença”, disse Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantã, que atualmente desenvolve uma vacina contra a dengue.

Conforme o boletim mais recente, são investigados 3.448 relatos suspeitos de microcefalia e o País já confirmou 270 casos da má-formação. “A primeira vez que se informou o ministério foi em 22 de outubro. No dia 26, os técnicos já estavam lá. Depois, declaramos problema de saúde publica”, ressaltou o ministro. “No dia 29 de novembro, laboratórios de excelência declararam microcefalia decorrente de zika. Foi identificado o vírus no líquido amniótico e na placenta”, ressaltou.

A posição brasileira foi levada ontem à Organização Mundial de Saúde por Pedro Vasconcelos. “Ele identificou uma proteína no líquido de uma criança com microcefalia, que mostra essa relação. Todo esse conjunto, mais o relato das pessoas que tiveram zika e depois a criança (nos levam à relação)”, afirmou Castro.

O ministro ainda afirmou que o País saltou de um registro anual de 150 casos de microcefalia para mais de 3 mil. Isso após um surto de zika no Nordeste, justamente no fim do verão.

Também presente ao debate, o secretário estadual da Saúde de São Paulo, David Uip, ressaltou que, como a microcefalia não era de notificação obrigatória antes de novembro, muitos casos registrados agora não necessariamente têm relação com o zika. “No Estado de São Paulo, tivemos 126 registros desde novembro, mas fazendo a investigação com as gestantes temos só 21 casos com suspeita de ligação com o zika vírus. Como estamos buscando mais casos, estamos achando mais”, disse. 

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Prédios públicos. O ministro afirmou ainda que a presidente Dilma Rousseff orientou todos os ministros, em reunião na noite de ontem em Brasília, a focar o trabalho de combate aos criadouros também nos prédios públicos. “A presidenta está extremamente preocupada com essa situação epidemiológica da microcefalia e hoje chamou todos os ministros e determinou que cada um colocasse cinco pessoas dos seus ministérios para coordenar as ações no Brasil inteiro para que seja feita uma faxina semanal em todos os prédios do governo federal", disse ao Estado. 

Castro defendeu a decisão da OMS de decretar emergência internacional. "Concordamos, tanto é que decretamos primeiro aqui no Brasil porque vimos que era uma coisa muito grave. A OMS está admitindo uma pandemia nas Américas. É uma coisa que está espantando a todos pela velocidade com que esse vírus está se propagando."