Morte por suposta reação à vacina foi causada pela febre amarela

Pesquisa da USP mostrou que idosa já havia contraído o vírus quando recebeu dose; imunizante leva 10 dias para ter efeito

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Por Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) constatou que um dos casos de morte por reação à vacina contra a febre amarela, que era investigado, era, na verdade, mais um registro de óbito por causa da doença. A paciente, uma mulher de 76 anos de Ibiúna, no interior paulista, já estava infectada pelo vírus quando foi vacinada.

Campanha de vacinação tenta conter avanço da febre amarela em São Paulo Foto: Fábio Motta/Estadão

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O grupo, formado por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Faculdade de Medicina da USP, está fazendo a confirmação de casos de febre amarela por meio de análises de autópsias realizadas pelo Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC).

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"A paciente tomou a vacina e, no dia seguinte, apresentou os sintomas, mas ela já tinha sido infectada pelo vírus. A vacina demora dez dias para começar a proteger contra o vírus. Se ela tivesse se vacinado antes, estaria viva", afirma Paolo Zanotto, professor do Departamento de Microbiologia do ICB da USP.

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Em todo o Estado, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, foram registrados três casos de morte por reação à vacina. O caso dessa paciente estava em investigação.

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Segundo Zanotto, a equipe também está verificando a atuação do vírus em outros órgãos. "Estamos tentando ver o que está acontecendo no cérebro, coração, pulmão, baço, pâncreas, rim e fígado. A maior quantidade de vírus é encontrada no fígado. Este é um estudo para verificar e descrever como o vírus muda dentro desses órgãos e que tipo de lesão está sendo causada."

Os pesquisadores contam com um parque de equipamentos de imagem, com aparelhos de ressonância magnética, tomografia computadorizada, ultrassonografia e raio X para fazer as análises. Nos últimos dois meses, quase 70 autópsias de pacientes com suspeita de ter contraído a doença foram analisadas pela equipe.

Segundo o diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP Paulo Saldiva, que é professor de patologia e integra o grupo, a equipe começou um projeto com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) há quatro anos com o objetivo de desenvolver técnicas menos invasivas para realizar autópsias, utilizando equipamentos de ponta, como o primeiro equipamento de ressonância magnética para corpo inteiro com campo de 7 Tesla da América Latina, chamado Magnetom 7T MRI.

"Agora, com esse surto, começamos a pesquisar a febre amarela. Uma aplicação da autópsia é que a gente detecta o vírus da vacina e da forma silvestre", explica Saldiva. "No caso da paciente, quem estava destruindo o fígado era o vírus da febre amarela."

Saldiva diz que a equipe também está utilizando um ultrassom portátil e que o grupo discute a possibilidade de utilizar a técnica para analisar casos suspeitos de mortes de macacos por infecção pelo vírus.

"Ao colher a amostra, poderíamos saber a velocidade de progressão da doença", afirma o professor.

O método também poderia ser utilizado para comparar o resultado com o de uma análise convencional e para evitar o transporte de todo o corpo do animal para o local de análise.

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