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OMS declara microcefalia como emergência internacional

Medida foi adotada para estimular pesquisas sobre a ligação entre a má-formação e outras doenças neurológicas; houve ainda apelo por uma ação agressiva contra o ‘Aedes’

Por Jamil Chade
Atualização:
Organização recomenda a governos de todo o mundo a adoção de uma política de vigilância máxima Foto: EFE/Percio Campos

GENEBRA - A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a microcefalia e as desordens neurológicas em áreas com a presença do zika vírus como emergência internacional e vai lançar-se em uma mobilização de verbas milionárias para acelerar pesquisas que possam esclarecer o motivo da explosão de casos da má-formação no Brasil. Enquanto isso, nenhuma restrição de viagem ou comercial deve ser adotada. Um fundo será criado para financiar pesquisas e a OMS apelou por uma “ação agressiva” para lutar contra o Aedes aegypti no mundo. 

Duramente criticada por não ter agido rapidamente para evitar a proliferação do ebola, a diretora da OMS, Margaret Chan, convocou os principais cientistas do mundo para avaliar nesta segunda a situação do zika vírus. Entre os especialistas estava o brasileiro Pedro Vasconcelos, do Instituto Evandro Chagas. 

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Até hoje, apenas H1N1, pólio e ebola haviam sido declarados como emergências internacionais. “Esses são eventos extraordinários e precisamos reduzir o risco de proliferação”, disse Margaret.

Diante da falta de comprovações científicas, a decisão dos especialistas foi a de evitar colocar o zika vírus como uma ameaça. O Estado apurou que, com a previsão de 4 milhões de pessoas infectadas apenas nas Américas, a OMS temia que, ao declarar uma emergência internacional pelo vírus, a região fosse tomada por um pânico desnecessário ou sofresse profundos prejuízos econômicos com embargos e medidas de isolamento. 

“Zika vírus por si só não é a emergência internacional. Clinicamente, ele não é serio. O vírus só seria declarado assim se ficasse provada a relação (com casos de microcefalia)”, disse David Heymann, médico que presidiu a reunião dos cientistas. O diretor de Emergência da OMS, Bruce Aylward, também confirmou a posição da entidade. “A emergência são os grupos de doenças (neurológicas) que atingiram o Brasil e a Polinésia Francesa em 2013 e 2014.” 

Mesmo sem as comprovações científicas, a OMS optou por agir. “As suspeitas são fortes (de ligação) entre o vírus e a microcefalia, ainda que não provadas cientificamente. Precisamos coordenar esforços internacionais”, declarou Margaret, lembrando ainda a falta de vacina e tratamento. “Isso é tão sério que temos de atuar com medidas preventivas. Imagine: se no futuro essa relação ficar provada, vão nos acusar de não ter atuado, pois o mosquito está em todas as partes”, afirmou. “Essa é uma ameaça para o restante da população mundial.”

“Precisamos de pesquisas. Mas, diante dos casos de má-formação serem tão graves, decidimos declarar uma emergência”, completou Heymann. A OMS ainda recomendou nesta segunda prioridade na pesquisa para encontrar uma vacina, assim como terapias e diagnósticos. O Estado apurou que um dos principais motivos do alerta emitido nesta segunda foi o de mobilizar o mundo científico e político para acelerar os estudos na área. 

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Ações. As medidas adotadas nesta segunda incluem as recomendações aos governos para que “o monitoramento de microcefalia e dos distúrbios neurológicos seja padronizado e fortalecido, em especial nas áreas conhecidas como locais de transmissão do zika vírus”. A OMS também exigiu que os governos preparem seus serviços de saúde para “um potencial aumento de casos neurológicos”.

Apesar de declarar a emergência, a OMS se recusou a fazer recomendações para que viagens sejam evitadas ao Brasil ou a outros lugares afetados pelo surto. “Não deve haver restrição de viagens ou comércio, nem para mulheres grávidas”, disse Margaret. Uma das preocupações da OMS era a de criar um padrão global para dar uma resposta ao problema, evitando que governos adotem medidas extremas, como a de sugerir a seus cidadãos evitarem os Jogos Olímpicos do Rio ou qualquer cidade brasileira. 

A OMS sugere, porém, que os viajantes sejam informados sobre os potenciais riscos e tomem medidas “apropriadas para reduzir a possibilidade de exposição às picadas dos mosquitos”. A entidade também recomenda que aviões sejam desinfetados antes de voarem. 

Outros países frisaram que só têm casos ‘importados

Se o Brasil era alvo de todos os questionamentos na reunião de especialistas e governos feita nesta segunda em Genebra, outros governos preferiram aproveitar a reunião para alertar que os casos em seus territórios eram todos “importados”. Ou seja, não tinham registros autóctones. 

Uma das representantes dos Estados Unidos, por exemplo, afirmou que todos os casos registrados em território americano eram “de pessoas que estavam em outros lugares e viajaram de volta às cidades americanas”. “Não vemos sinais de que eles tenham sido contaminados no país”, insistiu.