ONGs ajudam a amenizar falta de médicos em São Paulo

Voluntários oferecem consultas e exames gratuitos na capital paulista; leia a reportagem finalista do Prêmio Santander

PUBLICIDADE

Por Bianca Gomes de Carvalho
Atualização:

Há um ano, Suely Santos, de 47, descobriu que estava com câncer de mama. Poderia ter sido em uma unidade do SUS, mas foi no meio de um campo de futebol, durante a campanha Marque esse Gol, iniciativa da ONG Américas Amigas com o grupo Meninas do Peito e a empresária Cristiane Gambaré. Em uma cidade como São Paulo, onde faltam 930 médicos nas unidades de saúde administradas pela Prefeitura, a saídada população tem sido o atendimento oferecido por redes deONGs. Os dados sobre déficit de profissionais foram obtidos via Lei de Acesso à Informação. 

Finalista do 12º Prêmio Santander Jovem Jornalista, Bianca Gomes de Carvalho é estudante da Escola Superior Propaganda e Marketing (ESPM) Foto: Tiago Queiroz/Estadão

PUBLICIDADE

+++ Aluna da UFRN ganha Prêmio Santander Jovem Jornalista

Curada, Suely é uma das voluntárias deste ano do projeto. "Aquilome beneficiou e agora é minha vez de ajudar os outros", conta, emocionada. Em uma unidade móvel instalada em estádios de futebol, o Marque esse Gol realiza exames gratuitos de mamografia e ultrassonografia, e encaminha pacientes diagnosticados para tratamento gratuito em hospitais parceiros. Em 2016, foram identificados oito casos. 

+++ Futebol ajuda a combater depressão e alcoolismo de jovem índios em MS

O objetivo da Campanha é fazer um diagnóstico precoce da doença e dar tratamento imediato para as pacientes. "O caminhão do governo faz a mamografia, devolve o exame e manda a paciente marcar consulta. Às vezes, o atendimento demora meses, e a doença pode agravar", explica Nátali de Araújo, de 32, ex-paciente e uma das idealizadoras.

+++ Pelo aplicativo, o auxílio para quem sofre com transtornos de ansiedade

O especialista em gestão de terceiro setor José Alberto Tozzi, de 68, explica que o município não tem competência para gerir tudo e, por isso, iniciativas como essa são importantes. "Eu acho que é fantástico. Poderia ter incentivos por parte do poder público." Ainda segundo as informações pela Lei de Acesso, nas unidades administradas pela Prefeitura há déficit em técnicos de ultrassonografia (faltam 92%) e médicos da área de ginecologia e obstetrícia (67%).

Publicidade

A auxiliar de limpeza Maria José dos Santos, de 47, ficou quatro meses na fila do SUS e não foi chamada. "Queria passar em um clínico e ver se ele me encaminhava para outro médico. Sinto muitas dores nas pernas todos os dias."

A consulta só veio depois, quando ela soube do Instituto Horas da Vida, organização que presta serviço médico gratuito. "Demorou apenas duas semanas para eu ser atendida. O doutor me passou exames e devo voltar em 15 dias." 

Criado em 2013 pelos médicos João Paulo Nogueira e Rubem Ariano, o Instituto Horas da Vida é uma rede de médicos voluntários dispostos a doar horas de consultas para pacientes que não podem pagar.

O projeto funciona em parceria com ONGs de São Paulo e Curitiba. Elas encaminham para o instituto pessoas em situação de vulnerabilidade social que estão na fila de espera do SUS e que possuem renda familiar de até três salários mínimos. 

O projeto conta com uma rede de 1.800 profissionais de 31 especialidades diferentes. Desde sua criação, atendeu cerca de 14 mil pacientes. "Felizmente, as pessoas estão cada vez mais dispostas a esse tipo de trabalho", diz João Paulo. 

* FINALISTA DO 12º PRÊMIO SANTANDER JOVEM JORNALISTA, BIANCA GOMES DE CARVALHO É ESTUDANTE DA ESCOLA SUPERIOR PROPAGANDA E MARKETING (ESPM)