Os pais do bebê Enzo Gabriel Balbino, que morreu com 1 ano e 2 meses após se submeter a uma cirurgia cardíaca, assinaram um documento em que autorizavam o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia a fazer uma autópsia no corpo da criança para esclarecer as causas da morte.
A vendedora Josiane Angélica dos Santos, mãe do menino, registrou dois boletins de ocorrência de morte suspeita contra o hospital, alegando que os órgãos do bebê haviam sido roubados.
O menino sofria de comunicação interatrial - uma doença em que há comunicação de sangue entre os dois átrios do coração e, consequentemente, causa insuficiência cardíaca grave. Por isso, ele foi submetido a uma cirurgia para o implante de um retalho que deveria corrigir esse defeito.
"A cirurgia foi bem, mas a criança teve uma parada cardíaca no dia seguinte. A equipe é experiente e seguiu todos os protocolos de reanimação, mas, infelizmente, o bebê não resistiu", afirmou Ari Timerman, diretor médico hospitalar do hospital.
Autorização. O documento com a autorização da autópsia foi emitido no dia 27 de abril e foi assinado por mais duas testemunhas. Nele está escrito que serão colhidos fragmentos dos órgãos para exame microscópico e todos os órgãos serão devolvidos ao corpo, exceto se houver necessidade de um estudo mais elaborado de algum deles.
Segundo Timerman, como a criança tinha uma cardiopatia grave além de outras deformidades congênitas - como má-formação óssea e baixo peso para idade (pesava apenas 5,9 kg) -, o hospital retirou o coração, os pulmões e o cérebro para serem analisados mais profundamente.
Timerman explicou que o coração foi retirado para análise detalhada exatamente por causa da doença da criança. Os pulmões foram retirados porque também sofreram consequências da insuficiência cardíaca e porque uma análise feita a olho nu apontou que eles eram diferentes um do outro. Por fim, o cérebro de Enzo foi retirado para que os peritos avaliassem alguma malformação neurológica.
Serragem. Após a retirada dos órgãos, o corpo tem de ser entregue para a família em perfeitas condições, sem nenhuma mutilação externa e sem sinais visíveis de que uma autópsia fora realizada. Assim, como parte do procedimento, o corpo da criança foi preenchido com um tipo de serragem especial.
Foi provavelmente por esse motivo que o médico legista Jaques Cohen, do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, disse à família de Enzo que não seria possível realizar outra autópsia no corpo da criança - já que ela havia sido feita primeiro no hospital e, por isso, alguns órgãos haviam sido removidos e o local estava preenchido com serragem.
"O Enzo era uma criança com vários órgãos comprometidos por causa da cardiopatia. É lamentável que os pais tenham levantado uma suspeita desse tipo (de roubo de órgãos) num hospital como o Dante, que faz de oito a dez cirurgias cardíacas por dia", afirmou Timerman.
O perito Jaques Cohen informou que não daria entrevista sobre o assunto. A Secretaria da Segurança Pública só vai se pronunciar quando o laudo do IML estiver pronto.