Pai relata processo difícil, mas ‘recompensador’

Meses depois de muita resistência e de sucessivas tentativas frustradas de fazer Carol gostar de futebol, máquinas e mecânica, Anderson Almeida concordou em procurar o ambulatório da Faculdade de Medicina da USP

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Por Ligia Formenti
Atualização:

BRASÍLIA - Anderson Almeida muda o tom de voz ao falar do dia em que entrou em uma loja para fazer compras para sua filha Carol, há três anos. O gesto foi para ele – e para toda a família – uma mudança de vida e uma libertação. Anderson saiu da loja com vestidos, blusas, presilhas para cabelos, muitas em tons de rosa – a cor preferida, mas até então pouco usada por Carol. 

'Minha mulher me alertou, dizendo que não tínhamos um menino', diz Anderson Almeida. Foto: Felipe Rau

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“Foi um processo difícil, mas muito recompensador”, conta. Industrial, Almeida descreve seu comportamento do passado como antiquado e machista. Ele demorou a se convencer sobre os sinais que Carol começou a emitir aos 2 anos. Na época batizado de Murilo, já colocava fraldas na cabeça, simulando ter cabelos longos. “Minha mulher me alertou, dizendo que não tínhamos um menino em casa, mas uma menina.”

Meses depois de muita resistência e de sucessivas tentativas frustradas de fazer Carol gostar de futebol, máquinas e mecânica, Almeida concordou em procurar o ambulatório da Faculdade de Medicina da USP. “A pressão foi grande. Meus pais, religiosos, diziam que estávamos errados, foi um choque.” A cada dia que passa, no entanto, Almeida se convence de que a mudança foi para melhor. “Carol antes era desatenta, agressiva. Hoje é uma menina feliz, carinhosa com todos e muito interessada em aprender”, disse.

A transformação de Murilo em Carol começou a ocorrer há três anos. Os avós da menina, assim como o pai, trocaram a resistência pela certeza de que o certo foi feito. “A bisavó, de 93 anos, foi a pessoa que mais me impressionou. Quando levei minha filha para visitá-la, ela perguntou: mas esse não é o Murilo?”, recorda. “Quando expliquei que era o Murilo, que agora se chamava Carol, minha avó foi rápida: Isso é lindo. O importante é o amor.”

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