País começa a importar testes de zika

Para cientista, exames sorológicos serão fundamentais para avaliar extensão da epidemia, mas há preocupação quanto à confiabilidade

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Por Fabio de Castro
Atualização:
O mosquito 'Aedes aegypti' é transmissor do zika, da dengue e da chikungunya Foto: Luis Robayo/AFP

SÃO PAULO - Considerados essenciais para avaliar a dimensão do surto de zika, os teste sorológicos para diagnóstico do vírus - que começam a ser importados nesta semana por empresas no Brasil - ainda causam preocupação entre cientistas quanto à confiabilidade.

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Quatro testes sorológicos já foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De resultado rápido, eles detectam anticorpos produzidos pelo corpo após a infecção e, ao contrário dos testes moleculares, conhecidos como PCR, são capazes de diagnosticar a zika em pessoas que já não têm mais o vírus no organismo. Outra vantagem é o preço: enquanto os moleculares custam cerca de R$ 1.600, os sorológicos saem por R$ 200.

De acordo com José Eduardo Levi, professor da USP e chefe do Departamento de Biologia Molecular do Hemocentro de São Paulo, o maior acesso aos testes sorológicos é fundamental do ponto de vista epidemiológico. “A ajanela para detectar o vírus quando ele está presente no organismo, com testes PCR, é de apenas alguns dias. Nunca poderemos dimensionar essa epidemia olhando só para testes moleculares.” Segundo ele, o teste sorológico do tipo IgM é o mais importante do ponto de vista da população, por ser capaz de detectar infecções recentes mesmo em pessoas sem sintomas - 80% dos casos. “Sem isso, os números atuais de zika são apenas estimativas - ‘chutes’, eu diria.”

O problema dos testes importados, no entanto, é que, por não terem sido desenvolvidos a partir de vírus isolados no Brasil, poderão ter “falsos positivos”, por causa de reações cruzadas com outros vírus. “Quando o resultado é negativo, o diagnóstico desses testes é confiável. Mas, quando é positivo, é possível que esteja acusando zika em alguém que teve dengue, ou se vacinou contra febre amarela. Minha preocupação é que os testes comerciais, tornando-se acessíveis, multipliquem os resultados falsos positivos”, afirmou Levi.

Segundo Levi, em reunião na semana passada na sede da na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em São Paulo, cientistas da Rede Zika - que foi formada por cientistas de instituições paulistas como uma força-tarefa para combater a epidemia em diversas frentes de pesquisa -, definiram como prioridade o desenvolvimento de testes novos sorológicos confiávies. “Pesquisadores da Ficruz e do Instituto Butantan estão tentando desenvolver um teste sorológico brasileiro, que será mais confiável caso esses grupos consigam obter amostras muito bem caracterizadas de casos brasileiros.”

O patologista Helio Magarinos Torres Filho, diretor do laboratório Richet, que oferece testes para zika desde maio, não tem o mesmo receio quanto à confiabilidade dos testes importados. 

“Ainda há muito o que ser pesquisado. Quando chegarem os testes, os laboratórios importadores vão fazer a validação, um controle de qualidade para estabelecer as limitações. Essa validação deverá estabelecer as limitações dos testes, incluindo a possibilidade de reação cruzada”, disse.

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Segundo Magarinos, os testes sorológicos pedidos atualmente são encaminhados para um ambulatório em Barcelona, na Espanha. “Com a importação, o preço vai cair bastante e a realização do teste ficará muito mais rápido. Um deles funciona como um teste de gravidez e o resultado sai em 20 minutos.”

Magarinos também acredita que os testes serão importantes para os estudos epidemiológicos. "Eles permitirão estudar se uma população teve contato ou não com o vírus - incluindo casos assintomáticos. É sem dúvida muito imoprtante caracterizar melhor nas gestantes, por exemplo, qual é o período de maior risco de infecção para o feto", declarou.