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Polícia investiga se pílulas vendidas no interior tinham farinha

Comercialização era feita há mais de três anos e pacientes eram orientados a parar a quimioterapia após adquirir a fórmula

Por Rene Moreira
Atualização:

FRANCA - A Polícia Civil investiga a venda de fosfoetanolamina sintética, substância que poderia ser capaz de combater o câncer, por uma família do interior de São Paulo. Em um laboratório clandestino, na cidade de Conchal, foi apreendida nesta semana grande quantidade da substância, além de R$ 56 mil em dinheiro e muitos cheques.

A distribuição era feita a partir de uma chácara no Distrito Federal e os pacientes seriam orientados a parar com a quimioterapia. Mas policiais acreditam que a substância encaminhada talvez não seja idêntica à que foi criada na Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos.

No laboratório, havia pílulas prontas e uma pasta branca dentro de fornos convencionais Foto: Polícia Civil/Divulgação

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Uma análise inicial indica a presença de farinha de trigo nas cápsulas, que foram encaminhadas para exames mais detalhados. "Se for mesmo farinha, é algo muito grave, pois estavam mandando tomar isso e parar o tratamento", disse o delegado João de Ataliba Nogueira Neto.

No barracão onde funcionava o laboratório, havia pílulas prontas e uma pasta branca dentro de fornos convencionais. A substância seria usada para fazer os comprimidos e mandar pelo correio para o Brasil e o exterior.

Cada frasco com 60 unidades era vendido a R$ 180 e, nos cálculos da polícia, a venda era feita há mais de três anos - a meta do grupo seria arrecadar R$ 90 mil por mês.

Para fazer a fosfoetanolamina, os envolvidos teriam se apropriado de uma cópia da fórmula desenvolvida na USP. Policiais acreditam, porém, que ela possa ter sido alterada por causa da dificuldade de se sintetizar a fosfoetanolamina para atender à demanda. Um caderno com anotações de fórmulas foi apreendido no laboratório.

Auxílio. O esquema seria coordenado por Jonas Lutzer, de 50 anos, tendo seu irmão, o técnico em química Sérgio Lutzer, como responsável pela produção. O filho dele também foi preso por armazenar a substância, enquanto outras duas pessoas da família estão sendo investigadas.

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Os presos alegaram em depoimento que a intenção seria apenas a de ajudar as pessoas que sofrem com o câncer. Argumentam ainda que estão envolvidos em uma boa ação, cuja finalidade seria a de salvar vidas. No entanto, devem responder por associação criminosa e venda ilegal de medicamentos.

Polêmica. A fosfoetanolamina sintética é uma substância que foi criada por pesquisadores da USP para outros fins, mas que acabou sendo usada por doentes de câncer. Ela não tem registro e somente agora começou a ser testada. Médicos orientam os pacientes a não usarem as pílulas e a não interromperem o tratamento convencional.

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