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Postos-chave do Ministério da Saúde estão sem chefia

Esforço em agradar a todos os setores aliados dificulta nomeações no ministério; diretor do programa de dengue sai nos próximos dias

Por Ligia Formenti
Atualização:

BRASÍLIA - Com uma semana no cargo, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, ainda não tem equipe formada. O esforço em compor um secretariado que agrade a todos os setores da base aliada levou a pasta a ficar em compasso de espera, com vários postos vagos. Funcionários alinhados ao ministro anterior, Marcelo Castro, e à presidente afastada, Dilma Rousseff, vão aos poucos saindo de seus cargos, sem que haja substitutos em vista.

Em um período em que várias partes do País convivem com epidemias de dengue, chikungunya, zika e H1N1, duas peças fundamentais na adoção de políticas de vigilância e controle de doenças transmissíveis deixam seus postos nos próximos dias: o coordenador do Programa Nacional de Controle de Dengue, Giovanini Coelho, e o diretor de Doenças Transmissíveis do ministério, Cláudio Maierovitch.

Manifestantes defenderam o SUS e cobraram Ricardo Barros por ter sugerido mais planos privado Foto: Câmara dos Deputados

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O secretário de Atenção à Saúde, Alberto Beltrame, também sai do cargo sem que o sucessor tenha ainda sido escolhido. É o terceiro a sair nessas condições. Semana passada, assim que o nome de Barros foi anunciado, Eduardo Costa deixou o posto de secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, enquanto Heider Pinto saiu da Gestão do Trabalho e da Educação. 

Barros deixou claro que todos os nomes indicados sairão da Casa Civil, de forma a agradar a todos os setores que agora dão suporte ao governo do presidente em exercício, Michel Temer. Além de atender interesses políticos, o ministro afirmou que levará em consideração o conteúdo de investigações da Polícia Federal e do Tribunal de Contas da União para indicar seus assessores mais próximos. “Dependendo do nível de complexidade de conflito de cada área, será preciso pessoa com determinado perfil”, disse. Há ainda outro empecilho: a falta, dentro dos quadros do próprio PP, de nomes com a formação técnica necessária para atuar especificamente na área de saúde. 

O ministro não dá mostras de preocupação com a demora na definição de seus assessores. Um sentimento distinto dos grupos técnicos que trabalham no ministério. “Sem sinalização, projetos estão parados, atividades importantes estão sem definição”, afirma um servidor do ministério, sob condição de anonimato. 

Entre os que saíram na semana passada estão dois integrantes de outra área considerada essencial, a compra de medicamentos. O diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica, José Miguel Nascimento, chefiava a área responsável pela aquisição e pelos acordos para compra de remédios. Outro a sair foi Luiz Henrique Costa, coordenador-geral de assistência farmacêutica e medicamentos estratégicos. 

Protesto. Ao mesmo tempo em que procura fazer composições com esse grupo político aliado, Barros passou, com suas declarações, a acirrar ânimos, sobretudo de defensores do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesta quarta-feira, 18, ele deixou de comparecer a uma audiência marcada na Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados para, segundo sua assessoria, participar de uma reunião ministerial. 

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A ausência foi providencial. Se tivesse comparecido, ele teria se deparado com um grupo de manifestantes, que protestava contra suas declarações sobre a revisão do tamanho do Sistema Único de Saúde e sobre seu entusiasmo em ampliar a população atendida por planos de saúde. “Quanto mais planos, melhor”, disse o ministro. Pelo seu raciocínio, quanto maior a parcela da população atendida por planos, menor a pressão será feita no SUS.

O ministro também afirmou que não tem intenção de controlar a qualidade dos planos. “Ninguém é obrigado a contratar plano. Não cabe ao ministério controlar isso.” Garantiu, porém, que a universalidade do SUS será mantida.

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