Pressões de planos de saúde inviabilizam exercício da medicina, revela pesquisa

Datafolha aponta que há ataques à autonomia médica e coação para reduzir exames e internações

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

SAO PAULO - O livre exercício da medicina está ameaçado pelos planos de saúde, segundo resultados de uma pesquisa inédita do instituto Datafolha realizada a pedido da Associação Paulista de Medicina (APM).

Veja também:

PUBLICIDADE

 

Ataques à autonomia dos médicos, interferência descabida na relação com os pacientes, pressões para redução de internações, de exames e outros procedimentos são problemas detectados em todo o Estado de São Paulo. O levantamento busca conhecer a opinião dos médicos de São Paulo sobre a atuação das empresas de saúde suplementar. Foram entrevistados profissionais em atividade cadastrados no Conselho Federal de Medicina (CFM), que atendam a planos ou seguros de saúde particulares e tenham trabalhado com, no mínimo, três planos ou seguros nos últimos cinco anos. A pesquisa de campo ocorreu entre os dias 23 de junho e 18 de agosto. Foram feitas 403 entrevistas (200 na capital e 203 no interior ou cidades da região metropolitana). A margem de erro máxima, para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%, é de 5 pontos percentuais para o total da amostra e 7 pontos percentuais para capital e interior. Principais conclusões Tendo-se como base uma escala de zero a dez, o médico paulista atribui nota 4,7 para os planos ou seguros de saúde do Brasil. Considerando apenas as empresas com as quais tem ou tiveram algum relacionamento nos últimos cinco anos, a avaliação é similar: nota média de 5,1. Mais de 90% dos médicos denunciam interferência dos planos de saúde em sua autonomia profissional. No levantamento Datafolha/APM, em uma escala de zero a dez, é atribuída nota 6 para o grau de interferência dos planos. A nota maior é dada pelos médicos que atuam na capital: para cerca de três em cada dez, rejeitar procedimento ou medidas terapêuticas é o tipo de interferência que mais afeta a autonomia médica. Outros tipos de interferência muito apontados são quanto à solicitação de exames e procedimentos; atos diagnósticos ou terapêuticos mediante a designação de auditores; e restrições a doenças preexistentes. Confira abaixo alguns resultados relevantes da Pesquisa Datafolha/APM: Pior plano de saúde Há um empate entre os piores planos do Estado. Medial, Intermédica, Amil e Cassi são os mais citados. Piores honorários Medial e Intermédica dividem o primeiro lugar como os planos que pagam os piores honorários médicos. Procedimentos burocráticos Quando o assunto é burocracia, há uma pulverização dos resultados. Oito planos dividem a primeira colocação como o mais burocrático. Três em cada dez médicos paulistas percebem que todos os planos ou seguro de saúde são burocráticos. Interferência na autonomia Cerca de nove em cada dez médicos declaram que há interferência dos planos ou seguros de saúde na autonomia técnica. Cinquenta e dois por cento afirmam que essa prática é comum a todos os planos ou à maioria deles. Maior interferência em tempo de internação Na opinião dos médicos, Amil Sul América, Cassi, Medial e Bradesco são os planos que mais interferem no tempo de internação. Interferência no período de internação pré-operatório A opinião dos médicos da capital e interior difere quanto ao plano que mais interfere no período de internação pré-operatório. Trinta e um por cento acham que todos os planos interferem na mesma intensidade. Recusas e medidas terapêuticas Amil, Sul América e Medial são os planos que mais rejeitam procedimentos e medidas terapêuticas, segundo a pesquisa. Interferência no número de exames e procedimentos Amil, Medial, Intermédica e Sul América destacam-se como os que mais interferem nesse quesito. Interferência em atos diagnósticos e terapêuticos mediante designação de auditores Os mais citados são Amil, Medial e Sul América. Interferência dos planos ou seguros na autonomia técnica do médico, por tipo de serviço Recusar procedimentos ou medidas terapêuticas - 79% Quantidade de exames ou procedimentos - 77% Atos diagnósticos e terapêuticos mediante designação de auditores - 71% Restrições a doenças pré-existentes - 71% Tempo de internação a pacientes - 56% Prescrição de medicamentos de alto custo - 47% Período de internação pré-operatório - 46%

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.