Primeiros humanos não eram tão diferentes de nós

Segundo estudo, variabilidade comportamental explica a semelhança entre 'Homo sapiens'

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Por Redação
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Os primeiros humanos não eram, afinal, tão diferente de nós, segundo um estudo de John Shea, da Brook University, publicado no último número da Current Anthropology. Para Shea, os arqueologistas focaram as buscas na procura de evidências de "modernidade comportamental", uma qualidade supostamente única para o Homo sapiens, quando deveriam na verdade estar procurando "variabiliadade comportamental", uma dimensão quantitativa para o comportamento de todos os seres vivos.

 

 

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Durante o Paleolítico Superior (45 mil -12 mil anos atrás), fósseis de Homo sapiens apareceram pela primeira vez na Europa, juntamente com uma tecnologia complexa de ferramenta de pedra, ferramentas esculpidas em osso, armas de projétil, técnicas avançadas para usar o fogo, arte rupestre, contas e outros adornos pessoais. Comportamentos semelhantes são universais entre os seres humanos recentes e, portanto, os arqueólogos citam evidências para esses comportamentos como prova da modernidade comportamental humana.

 

No entanto, os fósseis mais antigos do Homo sapiens apareceram entre 100 mil e 200 mil anos atrás na África e na Ásia do Sul, em uma época em que faltam evidências claras e consistentes para tal modernidade comportamental. Por décadas, antropólogos contrastaram estes humanos "arcaicos" da África e Ásia com os seus homólogos "comportamentalmente modernos" do Paleolítico Superior, explicando as diferenças entre eles em termos de uma única "Revolução Humana", que mudou fundamentalmente a biologia e o comportamento humano. Os arqueólogos divergem sobre as causas, ritmo, tempo e características desta revolução, mas há um consenso de que o comportamento dos primeiros Homo sapiens foi significativamente menos evoluído que o dos mais recentes e "modernos" seres humanos.

 

Shea testou a hipótese de que existiam diferenças na variabilidade comportamental entre os Homo sapiens de antes e depois, utilizando como provas ferramentas de pedra de 250 mil a 6 mil anos atrás na África Oriental. Esta região possui o maior registro arqueológico contínuo sobre o comportamento do Homo sapiens. Uma comparação sistemática da variabilidade nas ferramentas de pedra ao longo dos últimos 25 milhões de anos não mostra nenhuma revolução comportamental na história evolutiva de nossa espécie.

 

Em vez disso, a evidência mostra grande variabilidade nas estratégias de manufatura de ferramentas desde os períodos mais primitivos em diante. Alterações específicas na tecnologia de ferramentas de pedra podem ser explicadas em termos dos custos variáveis e benefícios das diferentes estratégias de fabricação de ferramentas. De acordo com Shea, não é preciso invocar uma "revolução humana" para dar conta dessas mudanças.

 

Este estudo tem importantes implicações para a pesquisa arqueológica nas origens humanas. Shea argumenta que a comparação do comportamento de nossos ancestrais mais antigos aos que viveram no Paleolítico Superior na Europa de forma holística e classificando-os em termos de sua "modernidade comportamental" é um desperdício de tempo. Não existem seres humanos modernos, Shea argumenta, apenas populações de Homo sapiens com uma vasta gama de variabilidade comportamental.

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