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São Paulo proíbe transferência de macacos para santuário por temor de febre amarela

Oito animais provenientes do Mato Grosso iriam para Assis, no interior de São Paulo, mas foram barrados pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que alegou necessidade de prevenir uma eventual transmissão; não há indícios, porém, que os animais estivessem contaminados

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – Oito macacos que seriam transferidos na segunda-feira, 20, do Estado de Mato Grosso para um santuário de Assis, no interior de São Paulo, foram barrados pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo por causa do risco de febre amarela. O macaco é um hospedeiro do vírus, assim como os seres humanos, e a pasta alegou a necessidade de prevenir eventual transmissão. Os primatas seriam levados para Associação Protetora dos Animais Silvestres de Assis (Apass). A entidade encaminhou à Secretaria documentação para o transporte, mas a emissão das guias foi negada. A cidade paulista ainda não registrou casos suspeitos da doença.

Macacos, especialmente os bugios, são o principal alvo dos mosquitos Foto: JULIO CESAR BICCA-MARQUES|DIVULGAÇÃO

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A secretária executiva da Apass, Natália Tomas de Godoy, afirmou os animais seriam usados em atividades de educação ambiental. “Receberíamos cinco macacos-prego de uma universidade de Sinop e três macacos-aranha do zoológico de Cuiabá, mas, por determinação da secretaria, que é o órgão regulador, a entrada de primatas no Estado está suspensa enquanto durar o surto de febre amarela”, explicou. A pasta confirmou a suspensão temporária na emissão de guias para transporte de primatas por causa do risco da febre amarela.

Conforme a ambientalista, os tratadores que têm contato com os macacos abrigados no santuário foram vacinados e estão tomando cuidados especiais para evitar que eles sejam infectados. Em Santa Cruz do Rio Pardo, cidade vizinha, um adolescente de 17 anos teve a febre amarela, mas passa bem. Ele teria se contaminado numa trilha, no bairro da Cachoeira, circundada por matas onde vivem macacos.

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria do Meio Ambiente, em razão da ocorrência de casos febre amarela em vários Estados, inclusive São Paulo, e como o macaco é hospedeiro do vírus, preventivamente o Departamento de Fauna passou a suspender de forma temporária as autorizações para o transporte desses animais, independente da condição sanitária deles. Houve várias solicitações de ingresso de macacos em São Paulo que não foram autorizadas porque a Secretaria está preparando uma instrução normativa acerca da questão, que deverá ser publicada nos próximos dias.

Primatologistas têm alertado, desde o início deste surto recente de febre amarela, que os macacos não são culpados do problema, mas vítimas tanto quanto os seres humanos. Espécies como os bugios, sanguis e micos são altamente sensíveis ao vírus. Eles, inclusive, prestam um serviço a nós ao atuarem como sentinelas. Quando macacos morrem na floresta contaminados com febre amarela, eles acabam soando um alerta de que o vírus está circulando na região, o que permite que as autoridades de vigilância sanitária iniciem imediatamente a vacinação da população.

"Os macacos não são reservatórios da doença. Nos macacos o vírus se mantém por um curtíssimo espaço de tempo. Assim como o homem, são considerados hospedeiros do vírus, pois adoecem e morrem por conta dessa infecção. Os reservatórios do vírus e responsáveis por sua manutenção na natureza são os mosquitos silvestres, que podem transmitir o vírus para novos hospedeiros durante toda a sua vida, cerca de 30 dias", informa um grupo de mais de dez primatologistas e especialistas em conservação desses animais no País, que divulgou uma carta no início da semana pedindo cuidado com informações sobre a relação dos macacos com a doença.

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