PUBLICIDADE

Síndrome causa fome insaciável

Caminhada na Paulista, no domingo, busca conscientizar sobre síndrome de Prader-Willi, que faz pessoas comerem tudo o que veem

Por Juliana Diógenes
Atualização:
Dieta precisa ter mais saladas e legumes; doença dificulta absorção Foto: JF Diorio/Estadão

SÃO PAULO - Até o fim da vida, eles sentirão fome compulsiva e incontrolável a todo minuto. De cada 15 a 30 mil nascidos em qualquer lugar do mundo, estima-se que um seja portador da síndrome de Prader-Willi, pouco conhecida no Brasil. Sem a percepção cerebral da saciedade física, as pessoas afetadas pela doença podem comer o que aparecer pela frente, sem freios. 

PUBLICIDADE

Há casos dramáticos de pais que trancam a geladeira, o armário e a porta da cozinha. E a reação impressiona: crianças quebram a porta do armário, roubam comida e podem até comer alimentos congelados ou descartados na lixeira. Não há registro do número de pessoas com a síndrome no Brasil. Além disso, segundo especialistas, um dos problemas mais comuns é que muitas crianças têm a doença, mas os pais não sabem. É desconhecida até por profissionais da saúde, o que dificulta o diagnóstico precoce. Para conscientizar as pessoas, a Associação Brasileira Síndrome de Prader-Willi realiza neste domingo, 7, uma caminhada na Avenida Paulista, a partir das 9 horas, com encontro no Museu de Arte de São Paulo (Masp). 

Há outros dois eventos marcados para este mês no Rio e em Brasília, onde serão entregues panfletos explicativos que detalham os sintomas, o tratamento e a rede de apoio de familiares de portadores da síndrome.

A Prader-Willi é causada por um erro genético que afeta o funcionamento do hipotálamo, área cerebral responsável pela regulação do apetite, entre outras funções. A doença leva à obesidade associada ao atraso no desenvolvimento cognitivo. “Quando o bebê nasce, o que chama mais atenção é a hipotonia, ou seja, a fraqueza muscular. São bebês que quase não se mexem. Falam pouco e têm dificuldade de mamar”, diz a médica Ruth Franco, do Ambulatório de Prader-Willi do Hospital das Clínicas de São Paulo. 

Doze anos atrás, foi o que aconteceu com Larissa, filha da relações-públicas Patrícia Salvatori, de 46 anos. Na época, o exame genético para diagnosticar a síndrome teve de ser feito nos Estados Unidos e o resultado levou dois meses. “Praticamente não encontrava informações em português. Era desesperador”, relata a mãe. “Pensava: Será que vai andar, falar, interagir? Ela foi andar com quase 4 anos, fazendo fisioterapia quatro ou cinco vezes por semana.” 

Para Patrícia, entre todas as dificuldades, a pior situação foi a inclusão escolar. “É difícil as escolas entenderem e aceitarem. Há desconhecimento, principalmente quando as crianças surtam de ansiedade e estresse por falta da comida. Quem está perto precisa de muita tranquilidade.” Segundo ela, uma simples ida ao restaurante, ao supermercado ou a festas de aniversário pode estressar a criança, pela grande oferta de comida. 

Natal e Páscoa tiveram de ser readaptados: em vez de ganhar chocolate, por exemplo, Larissa recebe dos parentes roupas e ursinhos. Diariamente, Patrícia procura alimentar a filha com mais saladas e legumes do que carboidratos, já que a síndrome retarda o metabolismo e dificulta a absorção dos alimentos. 

Publicidade

Sem medicação ou cura. “Medicamentos usados para controlar compulsão alimentar não têm efeito nos portadores da Prader-Willi”, explica a médica. Mesmo sem cura ou remédio eficaz, quatro pilares são seguidos no tratamento: dieta restrita (900 calorias/dia), hormônio de crescimento, atividade física e acompanhamento psicológico. Quanto mais cedo for diagnosticada a doença, diz Ruth, maiores as chances de controle.

SINTOMAS

Características físicas  Olhos amendoados, mãos e pés pequeninos e lábio mais fino voltado para baixo, entre outras.

Aos 2 anos Apresentam falta de apetite e atraso no desenvolvimento, ao falar e andar, principalmente.

Aos 4 e 8 anos Começam a ganhar muito peso, mesmo sem comer tanto, porque têm metabolismo lento. Aos 8 anos, tem início uma compulsão desenfreada por comida.

Adolescente e adulto Os principais sintomas são obesidade e compulsão.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.