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Sistema americano pode prever agitação política em países 5 anos antes

Modelo tem 100% de precisão sobre violência contra governos; Tunísia é o acerto mais recente

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Por Redação
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SÃO PAULO - A previsão dos próximos conflitos políticos no mundo pode ser muito mais precisa com o uso de um modelo desenvolvido por dois professores da Universidade do Kansas e um colega da Universidade de Binghamton, em Nova York. O método, chamado de "Indicadores de previsão social de modelos de radicalismo e violência política", atualmente tem tido um acerto de 100% nas previsões sobre quais países vão provavelmente enfrentar uma escalada de violência política contra seus governos nos próximos cinco anos. Até agora, o sistema conseguiu prever a agitação civil no Peru, na Irlanda, no Equador, na Itália e, mais recentemente, na Tunísia. O Irã está no topo da lista. "O modelo tem sido bastante preciso até o momento", diz Sam Bell, professor assistente de ciência política no Kansas. Ele criou a tecnologia junto com Amanda Murdie, professora adjunta de ciência política na mesma universidade, e David Cingranelli, professor dessa área em Binghamton. O sistema foi desenvolvido para a empresa de inovação Milcord, que produz soluções de gestão do conhecimento para agências federais. "O interessante é que nosso modelo prevê tanto a violência em países como Honduras e Irã quanto nas democracias ocidentais", afirma Amanda. "Por exemplo, previmos a violência na Irlanda. Isso aconteceu recentemente, por causa da ajuda do Fundo Monetário Internacional", lembra. Para criar esse método, os pesquisadores construíram um banco de dados com informações publicamente disponíveis sobre 150 países. Ele contém a frequência e a intensidade da violência política em cada local entre 1990 e 2009. De acordo com Bell, essa violência inclui desde protestos passivos que se transformam em agressões físicas até um bombardeio numa embaixada. Apesar de outros modelos de previsão terem sido criados, esse é um dos mais abrangentes, destaca Amanda. Ele considera fatores como repressão, auxílios governamentais a ONGs, ajuda para reforçar a segurança e uso de internet e telefone celular. Para antever a violência política, três conceitos são levados em conta: coerção, coordenação e capacidade. Coerção é definida por violações dos direitos físicos, o que aumenta a motivação dos manifestantes, de acordo com a pesquisadora. "Acho que essa foi uma das nossas maiores descobertas: que o respeito aos direitos humanos básicos limita a violência política. Ao cobrir todos esses países e olhar para essa transição de tempo, descobrimos que ações contra os direitos humanos ainda são o que mais prejudica um país, mesmo nos dias de hoje", afirma Amanda. "Há uma tendência de os governo serem reacionários e reprimirem os direitos políticos para coibir a violência política, mas achamos que essa atitude tem um efeito de mobilização, em que as pessoas tomam as ruas", ressalta. "A repressão dos direitos humanos não interrompe a insurgência, mas ajuda a alimentá-la." O segundo conceito, a coordenação, é a facilidade com que um grupo pode se mobilizar. "Há dois verões, no Irã, realmente vimos o efeito do YouTube e Twitter no que diz respeito à capacidade de uma população para se coordenar e aumentar o nível de violência", diz Amanda. Essa coordenação pode rapidamente se dispersar ou acelerar ainda mais o grau de agitação política. A capacidade, terceiro fator, é a habilidade de um país em se estender por todo o seu território, o que limita a intensidade da violência contra o governo. Embora o atual modelo opere em um nível macro, Bell acredita que seja possível isolar alguns países e agregar um período de tempo muito menor em relação à atual previsão. Os pesquisadores também pensam em usar o banco de dados para criar uma avaliação de risco para o terrorismo contra cidadãos.

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