'Só o cachorro e o passarinho não pegaram dengue'

Famílias inteiras têm sido contaminadas pelo vírus na capital e no interior; empresária teve alergia por tomar ‘banho’ de repelente

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Foto do author José Maria Tomazela
Foto do author Marco Antônio Carvalho
Por José Maria Tomazela , Felipe Resk e Marco Antônio Carvalho
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SÃO PAULO e SOROCABA - Na capital e no interior paulista não faltam relatos chocantes da epidemia de dengue. “Em casa, só o cachorro e o passarinho não pegaram dengue”, conta o borracheiro Cléber Elias Pereira, de 39 anos. Ele mora no Jardim Novo Mundo, em Votorantim, no limite com Sorocaba. A região é uma das mais infestadas pelo mosquito na cidade, com 1.736 casos confirmados da doença.

Na casa de Pereira, a doença pegou primeiro o sogro dele; em seguida, a mulher, Vanessa; e a mãe dela, dona Cláudia. “Depois, foram meus dois filhos, o Cleyson e a Kelly, e agora chegou a minha vez”, disse, enquanto esperava atendimento em Sorocaba na sexta-feira.

Kátia (à esquerda) e Leandro já ficaram doentes; preocupação agora é com as crianças da casa Foto: Amanda Perobelli/Estadão

De acordo com o borracheiro, três moradores da casa vizinha também tiveram a doença. “O pior é que o foco do mosquito estava na minha borracharia, na água de lavar os pneus.” No hospital, as histórias assustam. De tanto tomar “banho” de repelente, para evitar uma nova infecção por dengue, a empresária Delmira Aparecida Vaz, de 39 anos, adquiriu uma forte alergia pulmonar. “É só uma das sequelas da doença que me derrubou”, disse. Ela ficou 20 dias sofrendo, dez deles na cama. “Tive febre alta constante, muita dor de cabeça, só não apareceram, felizmente, as dores nas articulações.” Capital. Em locais mais atingidos, há até um certo conformismo. Quando o servidor público Edson Mano, de 29 anos, recebeu na quarta-feira o diagnóstico de dengue, ele não podia dizer que estava surpreso. Na casa onde mora com outros sete familiares, cinco já haviam pegado a doença. Ele foi o sexto. “Não tem remédio”, relata a mãe dele, Solange Giannetti, de 56 anos. “Todo mundo está com medo de pegar de novo.” No sábado, Mano já apresentava sinais de melhora. “Foram cinco ou sem dias de cama, com febre alta e dor no corpo todo. Quando me mexia, doía tudo.” O servidor público mora na área em que a Prefeitura de São Paulo registrou mais casos de dengue na capital: Brasilândia, zona norte. O índice de infecção dos habitantes de lá já é considerado epidêmico, com 899 casos por 100 mil habitantes. Mano suspeita ter contraído dengue por descuido de alguns vizinhos, pouco preocupados em evitar água parada. Da família, apenas dois escaparam do mosquito. “Foi por pura sorte”, brincou. No Jaraguá, outro distrito que sofre com a epidemia, a família da auxiliar administrativa Kátia Dias, de 53 anos, abandonou até os pratinhos de plantas para não acumular água. Pouco adiantou. Ela, um neto de 11 anos e o genro contraíram a doença. A suspeita é que haja focos de dengue em um ferro-velho, no terreno vizinho. “Senti muita ânsia de vômito, não conseguia ficar em pé”, conta. Hoje, o receio é que duas crianças da casa, uma menina de 3 anos e um menino de 6, sejam picados pelo mosquito. No caso do garoto, a doença o forçaria a abrir mão de um remédio usado para tratar bronquite, contraindicado em casos de suspeita de dengue.

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