Técnica 'Cavalo de Troia' elimina câncer em camundongos

Especialistas comemoram resultados da técnica que usa o prórpio sistema imunlógico humano, mas alertam para necessidade de testes em humanos.

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Por James Gallagher
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Um tratamento experimental usando uma técnica de "Cavalo de Troia" eliminou totalmente o câncer de próstata em camundongos. O estudo, realizado na Grã-Bretanha, enviou uma espécie de agente invasor disfarçado ao interior de células doentes. A equipe escondeu uma série de diferentes vírus capazes de matar células cancerígenas dentro do sistema imunológico dos roedores com o objetivo de introduzí-los dentro de tumores. Uma vez no interior, dezenas de milhares de cepas destes vírus foram liberados para tentar "matar o câncer". Os resultados, publicados no periódico científico Cancer Research, mostram que o grupo foi bem sucedido. Embora analistas tenham classificado a pesquisa como "animadora", testes em humanos ainda são necessários antes de qualquer posicionamento definitivo. O nome da técnica faz Técnica referência à mítica batalha em que os gregos adentraram o território inimigo da cidade de Troia escondidos no interior de um grande cavalo. 'Surfando na onda' A técnica de "Cavalo de Troia" no tratamento médico não é nova. Cada vez mais cientistas têm-se valido deste recurso mas, segundo eles, o principal desafio é a profundidade necessária dentro do tumor para que os vírus sejam eficazes o suficiente. "O problema é a penetração", diz Claire Lewis, professora da Universidade de Sheffield. Ela lidera um estudo em que glóbulos brancos são usados como "Cavalos de Troia" para abrigar os vírus em sua jornada ao interior dos tumores. Ela explica que seu grupo também trabalha com a lógica de uma "onda". Após tratamentos com radioterapia e quimioterapia, os tecidos do paciente ficam danificados, e uma grande quantia de glóbulos brancos é enviada ao local para ajudar a reparar o estrago. "Estamos surfando nesta onda para introduzir o número maior possível de glóbulos brancos levando os vírus capazes de explodir os tumores até o coração desses tumores", explica a cientista. Sua equipe injetou glóbulos brancos contendo poucos de vírus nos camundongos dois dias após um ciclo de quimioterapia. Após entrarem no tumor, os vírus se replicam e em apenas 12 horas os glóbulos brancos explodem e expelem mais de 10 mil vírus cada, infectando e matando as células cancerígenas. Eliminação dos tumores Ao final do ciclo de 40 dias do estudo, todos os camundongos que receberam o tratamento ainda estavam vivos e sem sinais dos tumores. Em comparação, aqueles sob outros esquemas de tratamento viram seu câncer se espalhar e depois morreram. "[O tratamento] elimina completamente o tumor e impede que ele volte a crescer", diz a cientista Claire Lewis, acrescentando tratar-se de um conceito "revolucionário". Mas ela lembra que outros avanços do tipo acabaram sendo completamente inúteis quando testados em humanos. Ela espera começar os testes em pacientes no próximo ano. Radioterapia e quimioterapia Para Emma Smith, do Cancer Research UK (Instituto de Pesquisas do Câncer do Reino Unido), o estudo mostra que a quimioterapia e a radioterapia, tratamentos tradicionais contra o câncer, podem tornar-se mais eficientes com a ténica do "Cavalo de Troia". "Equipar o próprio sistema imunológico do corpo para levar um vírus mortal aos tumores é uma tática animadora que muitos cientistas estão pesquisando. Este estudo mostra que tem o potencial de transformar a quimioterapia e a radioterapia em armas mais eficientes contra o câncer", diz. Kate Holmes, chefe de pesquisas do Prostate Cancer UK, diz que se os estudos em humanos forem bem-sucedidos a técnica pode vir a ser um "divisor de águas" no tratamento do câncer de próstata. "Se este tratamento tornar-se um sucesso em humanos, poderia se revelar um progresso substancial em encontrar melhores tratamentos para homens com câncer de próstata, quando este já se espalhou pelos ossos", avalia. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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