Tecnologia e bons hábitos são aliados na luta contra a enxaqueca

Dor pode ser tratada com estímulos elétricos e toxina botulínica; comportamento saudável evita crises - veja dicas de especialistas

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Por Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - Entre os mais de 200 tipos de dor de cabeça existentes, uma se destaca por deixar suas "vítimas" com sintomas desagradáveis como sensibilidade à luz e ao barulho, além de causar desconfortos como náuseas e vômitos. É a enxaqueca, que precisa ser tratada com medicamentos e tem sido, nos últimos anos, combatida com tratamentos cada vez mais modernos, como a toxina botulínica e com estímulos elétricos.

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"O que mais nos preocupa é o uso abusivo de medicamentos e a automedicação, porque as pessoas acham que toda dor de cabeça é enxaqueca. A pessoa pode mascarar a dor e fazer com que o diagnóstico seja tardio. Se o paciente tomar dois analgésicos por semana, já está fazendo uso abusivo e tem de procurar ajuda médica", explica Célia Roesler, neurologista e vice-coordenadora do Departamento de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

 

Célia diz que há dois tipos de enxaqueca: a mais conhecida, caracterizada por dor latejante em alguma área da cabeça que pode durar de quatro a 72 horas, e com aura. "Na enxaqueca com aura, o paciente tem alterações visuais, como ver cobrinhas cintilantes ou perder metade do campo visual, ou alterações sensitivas na mão, antebraço, o braço, metade do rosto ou metade da língua."

Quem tem esse segundo tipo não pode fumar, pois o hábito aumenta os riscos de ter um derrame. Também há riscos para mulheres que tomam anticoncepcionais combinados. Elas devem trocar a pílula.

Thaís Villa, neurologista membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), explica que a enxaqueca é uma doença hereditária e que o diagnóstico é feito pelo neurologista a partir de exames clínicos. Nas consultas, os pacientes devem relatar detalhes da dor, como frequência e intensidade, histórico familiar e o que os especialistas chamam de "gatilho", que são eventos que causam o aparecimento da dor.

"O gatilho mais comum é o estresse, que pode ser físico ou emocional. Mas tem também o excesso de luminosidade, ambientes ruidosos, movimento, jejum prolongado, sono fora do padrão. Em relação aos alimentos, costuma ser muito individual. Para as mulheres, as alterações hormonais podem ser um gatilho."

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Tratamento. Além de medicamentos indicados por especialistas, como alguns tipos de antiepilépticos e antidepressivos, neurologistas contam com indicações mais avançadas para tratar o problema em longo prazo e evitar as crises.

Um deles é a aplicação de toxina botulínica, indicada para quem tem enxaqueca crônica. "É uma arma importante para prevenir as crises, mas é indicada para enxaqueca crônica, quando em um intervalo de três meses, o paciente teve mais de 15 dias de dor por mês", diz Thaís.

Outro tratamento é feito com equipamentos neuromoduladores. "É um aparelho em forma de arco sem medicamento, que faz uma estimulação elétrica suave que vai estimular o nervo trigêmeo, que fica comprometido nas crises. A pessoa pode usar durante a crise ou preventivamente durante 20 minutos. É um tratamento sem contraindicação e efeitos colaterais", diz Célia.

O advogado Fábio Delgado, de 34 anos, descobriu o problema em 2001 e começou a fazer o tratamento em 2004. Atualmente, ele faz a aplicação de toxina botulínica e usa o neuromodulador e medicamentos. "Já tive a enxaqueca crônica e demorou para eu encontrar um tratamento ideal. Inúmeras vezes fiquei na casa e não consegui sair de casa por causa da dor."

Delgado também aposta em bons hábitos para evitar as crises. "Também faço atividade física e durmo regularmente."

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