SÃO PAULO - A pesquisa sobre os efeitos da fosfoetanolamina sintética, também conhecida como “pílula do câncer”, em pacientes com a doença recebeu sinal verde da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde (Conep). A aprovação do protocolo foi feita na sexta-feira e permite que a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo comece em abril deste ano os estudos com o uso da substância em pessoas.
A fosfoetanolamina é apresentada como alternativa terapêutica para o câncer por cientistas do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), câmpus de São Carlos. O composto não passou por testes clínicos e não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de modo que não pode ser usado como medicamento.
Para aprovar o protocolo, a comissão exigiu que a pesquisa seja acompanhada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Também retirou a limitação de ressarcimento ao paciente que participará do estudo. O laboratório PDT Pharma, que vai sintetizar o composto a ser usado nos testes clínicos, espera iniciar a produção na última semana deste mês.
A Secretaria Estadual da Saúde informou que “não foi notificada sobre a aprovação e aguarda o parecer da Conep, até para saber se todos os requisitos para o desenvolvimento do protocolo de pesquisa foram atendidos”. O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo vai acompanhar o andamento das análises da pesquisa, que envolve ainda outras instituições de saúde pública do Estado.
Candidatos. A primeira fase vai envolver dez pacientes para avaliação da dosagem de segurança da fosfoetanolamina. Em seguida, o estudo deve se estender a até mil pacientes. A pesquisa será feita em quatro centros que atendem pela rede estadual: A. C. Camargo, Hospital do Câncer de Jaú, Hospital do Câncer de Barretos e o Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp).
O processo de seleção de interessados em participar dos testes ainda não foi iniciado, mas já foi informado que pacientes que estão em intervalo de tratamentos convencionais - ou em fases nas quais não há tratamentos disponíveis - estarão entre os selecionados. Desenvolvida pelo professor aposentado Gilberto Chierice, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, em São Carlos, a fosfoetanolamina sintética tem sido o centro de polêmicas. Durante anos, a substância chegou a ser distribuída gratuitamente, mas, até o momento, não há nenhuma comprovação científica de que tem eficácia no tratamento de doenças. / COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA