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1 em cada 10 cidades do Estado de São Paulo já vive surto de dengue

Normalmente, o ápice de registros da doença é após o fim do verão, em abril; estatísticas mostram maior risco em 67 municípios

Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli e Rene Moreira
Atualização:

Pelo menos uma em cada dez cidades paulistas já vive epidemia de dengue, três meses antes do período de pico da doença, registrado historicamente em abril. O quadro considera o número de casos notificados de outubro a dezembro de 2015, período que se iniciam as altas temperaturas e as chuvas, condições climáticas propícias à reprodução do mosquito Aedes aegypti, transmissor ainda da chikungunya e do zika vírus.

Estatísticas divulgadas na segunda-feira no site do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde mostram que 67 dos 645 municípios do Estado já registram, na temporada iniciada no último trimestre de 2015, taxa de incidência da doença acima de 300 casos por 100 mil habitantes, índice considerado epidêmico. Entre as cidades em situação preocupante estão Ribeirão Preto, São José dos Campos, São José do Rio Preto, Presidente Prudente, Ilhabela e Sorocaba.

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O levantamento já aponta para a possibilidade de uma nova epidemia de dengue neste ano no Estado, que, em 2015, registrou o pior surto da doença na história, com 649.562 casos confirmados durante todo o ano, mais do que o triplo do relatado no ano anterior. Também houve recorde de mortos por complicações de dengue em território paulista: 454. O número de municípios de São Paulo que alcançaram índice epidêmico, se considerado o acumulado de casos de todo o ano de 2015, também triplicou, passando de 142, em 2014, para 481 no ano passado.

Presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP) e titular da pasta na cidade de Ribeirão Preto, Stênio Miranda afirma que o aumento expressivo de casos antes do período de pico do ano tem preocupado as prefeituras, que sofrem com limitações orçamentárias para investir mais no trabalho de combate ao mosquito. “O panorama até dezembro é que temos, sim, alguns municípios vivendo uma antecipação do crescimento de casos. A expectativa agora é saber se isso vai se restringir a algumas regiões ou se pode espalhar-se para mais cidades”, diz ele.

Em Ribeirão Preto, desde outubro, o número de casos confirmados tem triplicado mês a mês. “Em outubro foram 60; em novembro passou para 300; em dezembro já são 800 confirmados e esse número pode aumentar com a conclusão de exames. Só até o dia 18 de janeiro, já são 4 mil casos notificados”, relata Miranda. A cidade também registrou 72 casos suspeitos de zika vírus, com a confirmação de quatro, e dois de chikungunya. Diante do quadro, a prefeitura decretou estado de emergência.

Dificuldades. A chuva que tem sido frequente há semanas vem dificultando o combate à dengue na cidade. Equipes estão indo às casas pedir que os moradores reforcem a atenção com os possíveis criadouros do mosquito transmissor. “Já diminuí muito o número de vasos e estou evitando qualquer coisa que junte água”, disse a dona de casa Maria de Lourdes Dias Silva, moradora do bairro Campos Elísios, que teve a casa visitada por agentes de combate à dengue. “Eles deram outras orientações que também vão ajudar a não pegar a doença”, contou.

A situação da dengue na cidade fez aumentar em mais de 20% em janeiro a procura pelo serviço público na área médica. Estimativa da Secretaria Municipal da Saúde aponta que 29 mil pessoas podem ser infectadas até junho, o que caracterizaria a pior epidemia da história da cidade. Para enfrentar o problema, nesta semana a Divisão de Farmácia da prefeitura distribuiu 15.500 frascos de soro fisiológico de hidratação endovenosa para as quatro unidades de pronto atendimento do município. “Esse medicamento é o principal reidratante para os pacientes que estão em tratamento de dengue”, explicou o farmacêutico Romano Carelli Junior.

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O mosquito 'Aedes aegypti' é transmissor da zika, da dengue e da chikungunya Foto: USDA/Divulgação

Para adquirir os remédios, a secretaria teve de fazer uma compra emergencial. De acordo com Carelli, em janeiro o produto está sendo consumido em quantidade cinco vezes maior do que em dezembro. Também foram reforçados estoques de outros medicamentos, como paracetamol e dipirona.

A expectativa da prefeitura é de que, neste ano, os custos com o tratamento da dengue e do zika fiquem entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões. Para reduzir o gasto também têm sido tomadas medidas preventivas, como mutirões de limpeza. Pelo menos 66 cidades da região de Ribeirão marcaram um mutirão para o dia 30. Ribeirão ainda cancelou o carnaval da cidade para direcionar a verba para ações de combate à doença.

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