Responsável pela identificação do primeiro caso de zika no Brasil e um dos primeiros a apontar a relação do vírus com aumento de casos de microcefalia, o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Kleber Luz, não pensa duas vezes ao afirmar: em pouco tempo, o nascimento de bebês com a má-formação ligada a essa infecção será coisa do passado. “As mulheres vão abortar, com autorização legal ou não”, avaliou. “E isso vai acontecer com mulheres de todas as faixas sociais.”
O número de casos de zika no País já está aumentando?
No Rio Grande do Norte, com aumento das chuvas e calor, os casos já estão crescendo.
E a microcefalia?
Não tenho dúvidas de que os casos vão começar a diminuir. Todos já conhecem os efeitos do zika nos bebês. O que vai ocorrer é que todas vão buscar a interrupção da gestação - independentemente de autorização da Justiça. Você acha que as mulheres vão aguardar uma decisão do Supremo que pode demorar anos?
Mas o aborto não estará restrito à classe mais privilegiada?
Não acredito. Hoje, qualquer que seja o grau de instrução, em todo canto do País as pessoas sabem o que é microcefalia. As mulheres não vão esperar. Não sei quais serão as consequências. Mas não tenho dúvidas de que haverá uma “autorização informal” para que mulheres recorram a essa medida.
Novos testes estão prestes a ser lançados para identificar a infecção pelo zika. Isso poderia dar segurança para gestantes?
Não acredito que esses testes fiquem prontos num pequeno espaço de tempo, nem mesmo sabemos se os resultados serão de fato tão confiáveis.
Os kits não são importantes?
Para estudos, sim. Para gestantes, sim. Mas não para população em geral. Nem para dengue são usados de forma sistemática. Não há necessidade. O mais importante é identificar o paciente com a doença, dar tratamento adequado. Atender e pedir para ele voltar depois, dar seguimento. Isso é que garante maior segurança e reduz complicações.